sábado, 7 de abril de 2018

DA LENDA AO CONTO E À ESTÓRIA COM LINDAS PASTORAS


Esta estória ao jeito de conto baseia-se nas lendas das pastorinhas. Firma-se no final da época sarracena e no interstício das consequentes reconquistas e refluxos, em que as culturas do sul (mundo mediterrânico) se aliam, quanto possível, com as do norte e sul da Península Ibérica, Europa e vice-versa. O trovadorismo é uma das fontes (entre outras) que parece pesar na elaboração da lenda de Linda-A-Pastora.

 As teses seguintes creditarão estas possibilidades:

 «São admitidas quatro teses fundamentais para explicar a origem do trovadorismo: a tese arábica, que considera a cultura arábica como sua velha raiz; a tese folclórica, que a julga criada pelo próprio povo; a tese médio-latinista, segundo a qual essa poesia teria origem na literatura latina produzida durante a Idade Média; e, por fim, a tese litúrgica, que a considera fruto da poesia litúrgico-cristã elaborada na mesma época. Todavia, nenhuma das teses citadas é suficiente em si mesma, deixando-nos na posição de aceitá-las conjuntamente, a fim de melhor abarcar os aspectos constantes desta poesia.» (cf. WIKIhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Trovadorismo , acedido em 04.04.2018)


LINDA-A-PASTORA OU LINDAS-AS-PASTORAS?

Era uma vez uma linda pastora que apascentava o seu rebanho nas terras do vale do Jamor (extensivamente J[esus é]Amor). Num tempo escaldante, situado entre os séculos XII e XIII, um senhor forasteiro passa o Verão entre as frescas e leves brisas que percorrem o vale. Num dos passeios, o senhor encontra uma pastora de beleza inconfundível e indizível. Tenta conquistá-la. A pastora rejeita a sedução. Porém, o senhor fica desiludido e dirige-se a Linda Pastora:

--Vou-me embora, já que a menina não crê nas minhas nobres intenções!

Já de partida, quando a Linda Pastora o chama:

--Espere aí; algo me diz que não devo molestá-lo nestas terras do Jamor e Carnaxide (*). Não devo fazê-lo sofrer, venha cá:

(*) Carnaxide parece provir de “origem árabe: Carna-axide: Monte de terra vermelha; origem celta: Carn-ushold: Carn (monte de pedras, memorial); Ushold (de cima) (cf. tb.  Wikiwand http://www.wikiwand.com/pt/Carnaxide).

E assim iniciam uma relação que resulta no nascimento duma menina ao fim de 7 meses. O senhor fica confuso. Acha que a pastorinha o traiu. Vai-se embora para um reino onde ninguém sabe das suas mágoas. Antes de deixar estas terras passa pelos lugares que viriam a chamar-se de Linda-a-Velha e Cruz-Quebrada. É aqui na foz do Jamor, que o senhor ruma a sul; no entanto, faz erigir uma cruz como sinal da paixão e do sofrimento com a linda pastora moçárabe. Lá no novo reino, o senhor procura a corte local. Nos tempos ali passados, a rainha fica grávida e dá à luz um filho que também lhe parece prematuro. Depois de indagar, fica a saber que é possível nascer uma criança viva e saudável, ao fim de 7 meses e até menos. É então que o forasteiro sonha sucessivamente com a Linda Pastora, a tal ponto que já não pode com as saudades. Regressa ao Vale do Jamor. Procura Linda-a-Pastora. Mas quem encontra é uma jovem e linda pastorinha. O senhor pergunta:

--A menina sabe dizer-me se ainda reside nestas paisagens uma Linda Pastora, que há anos apascentava um rebanho nestas terras do Jamor?

--Sim conheço …

A nova pastorinha indica a residência da velha pastora.

--Esse lugar fica mais além.

O senhor encontra a pastora, já com cabelos brancos. Era agora Linda-Velha. Tenta chegar ao diálogo e reconciliação com Linda-a-Velha. Linda-a-Velha não o recebe! O senhor fica revoltado. Vai ao lugar onde colocara a cruz como recordação dos tempos aqui passados e quebra a cruz, pensando que fora este sinal, o causador da sua infelicidade. Após o acto de profanação da cruz, este lugar passa a chamar-se Cruz Quebrada; ainda hoje assim se chama, uma freguesia cerca de Algés, nas faldas do Jamor.

Ao saber do sucedido a nova pastorinha corre após o forasteiro. Ao avistá-lo chama-o.

--Pai! - Quero que venhas viver perto de nós.

--Como assim! Ainda há pouco me repudiaram. Agora chamas-me de pai. Eu não sou digno de ninguém, nem da vossa caridade, não mereço nada, não valho nada, não quero nada.

--Vem, não sejas ridículo e lamechas. Eu e a mãe vamos criar uma comunidade, à semelhança dum mosteiro. Poderás viver dentro, obedecendo às regras, ou nas terras ao redor se preferires.

O senhor escolhe viver no mosteiro; ele aceita redimir-se, desde que lhe deixem ver a família de vez em quando. E assim a lenda terá prosseguido com conversões e adesões aos freires de São Domingos (1170-1221), os quais ocuparam este preciso sítio nas encostas do Jamor, possivelmente, sob os alicerces da actual CONFHIC – Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, sede principal de mais de mil irmãs hospitaleiras espalhadas por Portugal e pelo mundo.

 O vale do Jamor tem inspirado Poetas: Cesário Verde, Almeida Garrett, Tomás Ribeiro, entre outros. As lendas de pastorinhas divulgadas na Europa, ao estilo trovadoresco e na zona do Jamor têm influenciado estórias em Cruz Quebrada, Carnaxide, Linda-a-Velha, Linda-a-Pastora e Queijas.

Da lenda, à estória, ao conto e à história. Temos mais um filão a investigar, coadjuvando documentos de arquivos, bibliotecas e arqueologia.

……………………….

Palavras-chave: Carnaxide, CONFHIC, Cruz Quebrada, fratrimónio, Jamor, Linda-a-Pastora, Linda-a-Velha, Queijas,

 Fontes acedidas em acedidas em 04.04.2018)


--ANCIÃES, Alfredo Ramos – “D. Libânia – Linda Pastora” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/03/blog-post_24.html

-------------------------------------  – “Estre Lindas Pastoras Fratrimonializar” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/04/entre-lindas-pastoras-fratrimonializar.html

-----------------------------------  – “Linda-a-Pastora: Adaptação de Uma Variante da Lenda”  http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/04/linda-pastora-adaptacao-de-uma-variante.html


--CANÇÃO NOVA et al.”São Domingos de Gusmão”  https://santo.cancaonova.com/santo/sao-domingos-de-gusmao-homem-de-oracao/

--CUTILEIRO, José “Linda-a-Pastora [com] variantes [regionais] http://retrovisor.blogs.sapo.pt/61468.html 

--GARRET, Almeida – Romanceiro (III). Lisboa: Imp. Nacional, 1851 “Linda -A-Pastora”, cap. XXXII; também disponível em - https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1829280/mod_resource/content/1/Romanceiro_Garrett.pdf acedidos em 04.04.2018 )

--LISBOA, Isa “Casa de Cesário Verde | Linda –a-Pastora” http://comjeitoearte.blogspot.pt/2017/02/cesario-verde-i-casa-de-linda-pastora.html


--LUZ, António Reis, et al.  “As Quintas de Recreio” http://luzdequeijas.blogs.sapo.pt/2069763.html

---------------------------- – “Monumento em Honra de Madre Maria Clara e “Vária - Queijas” https://luzdequeijas.blogs.sapo.pt/2012/01/14/ ;  https://oentardecer.blogs.sapo.pt/monumento-em-honra-de-madre-maria-clara-340194


--MIRANDA, Jorge Viagem pelas Lendas do Concelho de Oeiras Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, 1998 , p.30  IN http://www.lendarium.org/narrative/linda-a-pastora/?tag=628

--WIKIWAND et al – “Carnaxide etimologia” http://www.wikiwand.com/pt/Carnaxide


--WIKIPEDIA. et al. “Cesário Verde” https://pt.wikipedia.org/wiki/Ces%C3%A1rio_Verde

-----------------------------  “João Baptista Verde” https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Baptista_Verde


----------------------------- “Conto”  https://pt.wikipedia.org/wiki/Conto


-----------------------------– “Trovadorismo” https://pt.wikipedia.org/wiki/Trovadorismo


Alfredo Ramos Anciães, Território Massabraense / Sintra, 22.03.2018

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