domingo, 25 de dezembro de 2016


118. PATRIMÓNIOS E FRATRIMÓNIOS NA COLINA DE SÃO ROQUE
Imagem do logótipo. O fundo do escudo a vermelho, significará vida, o cão com um pão na boca representa a imagem ligada a S. Roque trazendo alimento aos que sofrem de peste e iniquidades. O bastão e a cabaça significam o amparo e a prossecução da viagem / peregrinação. A coroa e a pomba são características da devoção ao Espírito Santo com a presença do ágape eucarístico.
(Gentileza da imagem: PINTO, Helena Gonçalves et al. “Símbolos” https://www.irmandadesaoroque.pt/instituicao/simbolos#ler-mais )

Tudo parece indicar que a Igreja de São Roque, localizada na Trindade / Bairro Alto foi construída sobre antigos alicerces do cemitério dos pestíferos ou da Ermida deste orago.

Quer a Ermida, quer a Igreja foram erguidas em louvor de S. Roque, como premonição contra as pestes em épocas de misérias mil e inexistência de medicinas preventivas.

Para lá da colina de São Roque, na Trindade / Bairro Alto por onde este orago entrou em Portugal, o santo natural de Montpellier - França é venerado em várias localidades da lusofonia, ou levado pelos portugueses. Exemplo: em Abrigada - Alenquer, Açores, Braga, Brasil, Castelo de Vide, Funchal, Goa, Marelim - São Paio - Penafiel, entre tantas outras localidades.

As irmandades religiosas, instituídas a partir da Idade Média para apoio aos deserdados da vida, ou caídos em desgraça por circunstâncias de guerra ou outras, foram uma ajuda essencial para minorar as misérias.

Atualmente e, não obstante, a criação das Organizações de assistência social no âmbito do Estado, dos Seguros e dos Sindicatos, para os quais se descontam quotizações, continua a haver razões para a renovação destas irmandades religiosas, até porque, como consta na “Coluna do irmão provedor” – Notícias da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa, 2106: “Falta […], estudar a outra parte do Homem, a mais difícil: o seu Espírito […]. No alto das experiências desta Irmandade, afirma-se na mesma “Coluna do Provedor” que:

“A nossa irmandade acompanhou esta evolução nos últimos cinco séculos” e por razões históricas, que são do conhecimento comum, o mesmo Provedor diz-nos que:

“A Irmandade chegou ao IIIº Milénio tão enfraquecida quanto as demais instituições religiosas.[…]”. Contudo:

“Em 2004, um grupo de Irmãos tomou-a nos braços e soergueu-a da letargia em que se encontrava”. (V. Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa, et al -  “A Tragédia do Mundo e a Nossa irmandade” in boletim Notícias da Irmandade, 2016.  
A fachada da igreja de São Roque é simples, mesmo austera, racional, maneirista, portuguesa e jesuítica. Contrasta com o interior barroco na tradição do concílio de Trento (1545-1563) a fim de provocar exaltação no auditório, como reforma ou reação às críticas protestantes, como são exemplo a interposição das 95 teses de Lutero.

O interior é constituído por nove capelas:

1)-Capela Mor, onde figura em plano superior a pintura de Cristo Salvador do Mundo e no plano inferir/central figura a escultura de madeira de São francisco Xavier; executada na primeira metade do século XVII;

2)-Capela de São João Batista.
Retábulo Principal da Capela de São João Batista na Igreja de São Roque

Atestando a importância desta capela afirma-se que o museu local abriu em 1905; estamos ainda na capicua de 111 anos com a designação de Museu do Thesouro da Capela de São João Baptista.

Nesta designação museológica verifico que se tomou a parte pelo todo. Sendo que o todo é o conjunto da Igreja de São Roque, as capelas com as suas irmandades e a antiga Casa Professa da Companhia de Jesus que usou estas instalações.

Esta Capela de São João Batista, mandada executar em Itália por D. João V, foi pré-inaugurada / consagrada pelo Papa Bento XIV em Roma; novamente desmontada e transportada, pedra por pedra, para Lisboa em três naus. Conjuntamente vinham dezenas de alfaias, peças de ourivesaria e ornamentos.

O projeto e a execução foram de Luigi Vanvitelli e Nicola Salvi (1742-1747). Contudo os trabalhos foram acompanhados, mesmo à distância; alterados por D. João V e pelo arquiteto e ourives João Frederico Ludovice, de naturalidade alemã que adotou Portugal como seu país. Em Portugal, Ludovice deixou descendência, amizades com a família real (D. Pedro II, D. João V e D. José), bem como obra vária, inclusivamente no Paço da Ribeira e no Convento de Mafra;
3)-Capela de Nossa Senhora da Doutrina, ou de Santa Ana, mãe de Maria, ligada à confraria do mesmo nome, executada na primeira metade do séc. XVII;

4)-Capela de São Francisco Xavier, o principal jesuíta enviado por D. João III para o Oriente. Esta capela foi patrocinada por António Gomes de Elvas, da família de mercadores e detentores do Ofício de Correio Mor do Reino; executada na primeira metade do século XVII;

5)-Capela de São Roque, orago da ex-Ermida e da atual Igreja. Tem como figura central a escultura de São Roque; executada na segunda metade do século XVI;
6)-Capela do Santíssimo Sacramento, ou de Nossa Senhora da Conceição, patrocinada por Luísa Fróis, benemérita dos Jesuítas;

7)-Capela de Nossa Senhora da Piedade. Patrocinada pelo escrivão de D. Sebastião, Martim Gonçalves da Câmara, onde se encontra sepultado. Esteve ao cuidado da Irmandade de Nossa Senhora da Piedade. Data da segunda metade do século XVII, terminada em 1711. Tem como figura central a escultura de uma Pietá;

8)-Capela de Santo António. Patrocinada por Pedro Machado de Brito, com indicação de que deveria servir para sua sepultura e descendentes. Tem como figura central a escultura de Santo António com o menino. Data da segunda metade do século XVII;

9)-Capela da Sagrada Família. Patrocinada pela Congregação de Amor e Graça dos Nobres. Data da primeira metade do século XVII.

Tags: Bairro Alto, Trindade, irmandades, jesuítas, maneirismo, barroco

Fontes:

-BRITO, Maria Filomena, et al – Igreja de São Roque. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia, 2008

-MANTAS, Helena Alexandra Soares, et al – Museu de São Roque. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia, 2008

Em linha, acedidas em 22.12.2016

ANCIÃES, Alfredo Ramos – “Bairro Alto – Sétima Colina Curiosidades” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/12/115-bairro-alto-setima-colina.html

-CANELAS, Lucinda - “D. João V quis um Vaticano em Lisboa” https://www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/d-joao-v-quis-um-va-ticano-em-lisboa-26550701

-COUTINHO, Maria João Pereira; FERREIRA, Sílvia - “As irmandades da Igreja de São Roque […]”  file:///C:/Users/Utilizador/AppData/Local/Microsoft/Windows/INetCache/IE/1ECY7F6B/4587-1-15164-1-10-20140717.pdf

-GUEDES, José Benard, PINTO; Helena Gonçalves et al. “Símbolos” https://www.irmandadesaoroque.pt/instituicao/simbolos#ler-mais

-MORNA, Teresa Freitas - Lisboa: Capela de São João Baptista revela esplendor - http://www.agencia.ecclesia.pt/noticias/dossier/lisboa-capela-de-sao-joao-baptista-revela-esplendor/

-PENTEADO, Pedro – “Confrarias Portuguesas […]” http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4930/1/LS_S2_07_PedroPenteado.pdf 

-PINTO, Helena Gonçalves – “Irmandade da Misericórdia e de São Roque” https://www.irmandadesaoroque.pt/patrimonio/historia/as-festas-em-honra-de-sao-roque/49-as-festas-em-honra-de-sao-roque 

-SANTA CASA da Misericórdia, et al. - “Santa Casa Da Misericórdia: A Fundação da Irmandade” http://www.scms.pt/index.php/a-irmandade.html

-SUA PESQUISA.com, et al - “Concílio de Trento” http://www.suapesquisa.com/resumos/concilio_trento.htm  

-WIKIMEDIA, et al - “Confraria Religiosa” https://pt.wikipedia.org/wiki/Confraria

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