SÃO ROQUE.
NOTAS DE UM PERCURSO
Tanto o
museu como a colina de São Roque - Lisboa devem o nome a este santo, natural de
Montpellier (cª 1284-cª1327). Faz ora, em 16.8.2016 o 689º, supostamente o ano
da sua partida. Proveniente de família abastada, nasce quando seus pais estão
de idade avançada. Os progenitores sempre terão acreditado num milagre de ter um
filho. Contudo, os pais morrem antes de Roque atingir a maioridade.
001(AA)
Imagem de São Roque in Capela da Freguesia da Abrigada - Alenquer, onde pode ver-se o cão a entregar um pão a Roque
Quando
pode dispor de alguns bens, Roque exerce com eles o que, em termos de Nova
Museologia e Social, ou de Filosofia do Cristianismo, se pode classificar de
ação fratrimonial. Roque distribui os bens pelos pobres, praticamente em segredo.
Sem subsistência,
resolve partir para Roma. Pede esmola para sobreviver. Já em Itália, em Acquapendente,
depara-se com o alastramento da peste. Não foge da mesma. Enfrenta-a e
dirige-se ao hospital para ser útil.
Consta
que a sua presença em Acquapendente, como noutras localidades, por onde passa,
a peste se dizima em breve tempo. Ainda em Itália tem conhecimento de que a localidade
de Piacenza (ou Placência) se debate com os mesmos problemas de peste. Roque
parte para ser útil nesta localidade. Também aqui vai assistir enfermos.
Contudo,
em Piacenza, é o próprio Roque que não resiste incólume. Fica gravemente
doente, infestado dos males que cura à polução. Afasta-se por sua vontade,
muito debilitado e a custo, para não ser um peso para os outros, nem contribuir
para a difusão da infestação. Abriga-se junto a uma choça, sem quaisquer bens,
nem mesmo água.
Roque
aceita o destino.
Quer,
porventura, o Altíssimo que Roque não definhe ali, isoladamente. Junto dele vê
aparecer uma fonte, que se preserva na atualidade e é visitada em memória do
santo, sendo as águas procuradas como bênção.
Perto desse
local de abrigo há um castelo habitado por um nobre de nome Gotardo e um cão. O
cão apercebe-se da presença de Roque e vem em seu auxílio trazendo-lhe alimentação
que desvia do castelo. Gotardo acha estranho o inabitual desaparecimento do
animal e da comida. Resolve investigar para onde o animal se dirige e Gotardo
vê-se em presença do estranho.
Gotardo
conversa com Roque. Resultado - um novo convertido. Gotardo renuncia,
igualmente, aos bens e vai disfarçado pedir esmola; faz-se eremita. Entretanto
Roque recupera e volta a Piacenza onde cura os doentes, apenas com a sua presença
e a bênção das ruas com o sinal da cruz.
É
altura de voltar para a sua terra. Mas em Montpellier não é reconhecido, nem
pelo seu tio governador. É preso, falsamente acusado de espião, não acreditam (ou
fingem, não acreditar) nele. Na cadeia, prestes ao falecimento, cuja hora da
morte consta que lhe foi revelada, pede ao carcereiro que lhe dê o privilégio
de ser assistido por um sacerdote para que lhe dê a extrema-unção.
Em breve,
Roque é encontrado sem vida, após a presença de uma intensa luz a sair do
cárcere.
Acorre
o carcereiro que se depara com uma mensagem escrita: «Os que tocados pela peste invocarem o meu servo Roque, serão livres
por sua intercessão desta cruel enfermidade».
A sua
morte é divulgada e ocorre gente à prisão. Entre as pessoas, um familiar certifica
que é mesmo Roque, pois reconhece-lhe um sinal de cruz com que Roque nascera. E
assim se difunde a aura deste cidadão europeu, de Montpellier, por quase todo o
mundo conhecido, especialmente pelo mundo de tradição cristã.
002 (AA)
Imagem parcial do Museu de São Roque e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
OCULTO
DO SANTO EM LISBOA
O culto,
em Lisboa, data de inícios do século XVI, ao tempo de D. Manuel I e liga-se
precisamente ao sítio de São Roque na 7ª colina – junto ao Bairro Alto.
Neste
local, fora de portas da muralha fernandina, havia um cemitério.
Como a fama de Roque se expandira em tempos de pestes, D. Manuel I resolve solicitar a Veneza uma relíquia do santo e, para isso, constrói-se uma ermida no local, onde acaba por dar origem a um templo maior, a atual Igreja de São Roque, funcionando como local de culto e como peça integrante do Museu de São Roque.
Como a fama de Roque se expandira em tempos de pestes, D. Manuel I resolve solicitar a Veneza uma relíquia do santo e, para isso, constrói-se uma ermida no local, onde acaba por dar origem a um templo maior, a atual Igreja de São Roque, funcionando como local de culto e como peça integrante do Museu de São Roque.
JESUÍTAS EM SÃO ROQUE
Em
1540, ao tempo de D. João III, entram os jesuítas e já com falta de instalações em Santo Antão (o Velho e o Novo) escolhem também o sítio de São Roque
na então denominada Vila Nova de Andrade.
A
decisão de se expandir a cidade para a parte de cá do vale do Rossio e das Portas
de Santa Catarina, terá resultado da necessidade de albergar mais gente, devido
ao desenvolvimento das atividades ligadas ao mar, à expansão pelos
Descobrimentos e ao sismo e maremoto de 1531. Certa população das zonas orientais;
à volta do Castelo, Alfama e Mouraria, bem como outros novos habitantes, vão-se
transferindo para sul e ocidente, isto é para o Bairro Alto ou de São Roque.
003
Imagem da Capela de São João Batista com iconografia do batismo de Jesus no
Museu de São Roque (gentileza – publicada in https://www.facebook.com/museudesaoroque/ )
Sabe-se
que desde 1513 com D. Manuel I havia sido autorizado o plano de edificação
desta zona ao serem adquiridos terrenos de propriedade e/ou usados por:
Guedelha Palaçano, Filipe Gonçalves, Luís de Atouguia; terrenos do Convento da
Trindade e da cerca deste convento, juntamente com a Vila Nova do Olival, junto
ao mesmo convento; e ainda, os terrenos de Bartolomeu de Andrade e sua esposa -
Francisca Cordovil. Daí, também, a designação de Vila Nova de Andrade atribuída
ao Bairro Alto.
Posteriormente,
sendo rei D. João III, fervoroso adepto dos jesuítas, facilita-lhe a vinda e a
instalação nesta zona. A Ermida de São Roque passa para a Companhia de Jesus em
1553 e não tarda a sua conversão em Casa Professa, onde já existia o Convento da Santíssima Trindade dos Frades
Trinos da Redenção dos Cativos que resta em memória toponímica da zona e em
alguns equipamentos e edifícios, tais como o Teatro da Trindade, a Central
Telefónica da Trindade, a Cervejaria Trindade e outros equipamentos e topónimos.
Com a
expulsão dos Jesuítas, em 1759, as instalações desta Casa Professa são
entregues à Santa Casa da Misericórdia com os seus bens de recheio.
MUSEU DE
SÃO ROQUE, CAPICUA 111
Em 1898
é criado formalmente o Museu de São Roque, que acaba por abrir portas ainda em
tempo da monarquia, isto é, no ano de 1905. E aqui temos a capicua 111, que a
meu ver deveria ser festejada, entre 2016 /2017.
Trata-se,
em minha opinião, de um dos mais interessantes museus de Arte Sacra a nível nacional
e internacional, pelo espólio original que dispõe, como coleções de «pintura,
escultura, ourivesaria, iluminura, têxteis, relicários, frontais de altar […]» do século XVIII.
Bem
como a própria igreja de São Roque com seu conjunto de peças, entre as quais se destaca
a característica e importante capela de São João Batista onde o arquiteto e
ourives português, por adoção, João Ludovice tem especial intervenção nas peças
decorativas.
004,
005, 006 (AA) Pormenores do Palácio Ludovice / Solar do Vinho do Porto
Em
memória de João Ludovice, nesta zona, podem ser visitadas, não só a capela de São
João Batista, bem como as suas moradas, nomeadamente a Rua de São Pedro de
Alcântara, onde se encontra o Solar do Vinho do Porto e que brevemente será hotel
de charme.
Na
envolvente, Igreja da Encarnação ao Chiado, repousa para a eternidade Ludovice, presente na
arte do Museu de São Roque, bem como no Convento de Mafra, na qualidade de
Arquiteto Mor. Acresce que o Convento de Mafra faz ora 300 anos do lançamento
da primeira pedra. Nesta altura já existia o Bairro Alto onde João Ludovice acaba por construir o seu palácio do qual as três imagens supra são testemunho.
Tags: Arquitetura,
Bairro Alto, História, João Ludovice, Museu de São Roque Fontes:
-CERVEJARIA Trindade, et al. – “Convento da Santíssima Trindade dos Frades Trinos da Redenção dos Cativos”. Desdobrável. Lisboa: Cervejaria Trindade, s.d. ;
Em
linha, acedidos em 6.12.2016:
-AGÊNCIA Eclésia et
al – Capela de São João Baptista na Igreja de São Roque https://www.youtube.com/watch?v=h1kByvmn7qs
-CML et al. – “Bairro Alto” http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/bairro-alto
-CML et al. – “Bairro Alto” http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/bairro-alto
-CML,
Agenda Cultural Lisboa, et al. –
“Museu de São Roque” http://www.agendalx.pt/local/museu-de-sao-roque
-MUSEU de São Roque, et
al. – “Museu de São Roque” https://www.facebook.com/museudesaoroque/ ; ------- - Capela de São João Baptista na Igreja de São Roque - http://www.museu-saoroque.com/pt/igreja-de-sao-roque/as-capelas/capela-de-sao-joao-batista.aspx
-PORTUGAL, Património Cultural, Sistema de Informação para o
Património Arquitetónico –
“Bairro Alto de São Roque / Vila Nova de Andrade”
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5019
“Bairro Alto de São Roque / Vila Nova de Andrade”
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5019
-SANTA Casa da Misericórdia, et al. – “Museu de São
Roque”
http://www.museudesaoroque.com/pt/igreja-de-sao-roque/historia.aspx ; -------
“Robot sorridente mostra Museu de São Roque”
http://www.museudesaoroque.com/pt/igreja-de-sao-roque/historia.aspx ; -------
“Robot sorridente mostra Museu de São Roque”
-WIKIMEDIA et al -
“Companhia de Jesus”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus
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