A Igreja de São João do Lumiar fica situada no Largo São João Baptista,
1600-760 Lumiar - LISBOA. Esta Igreja tem dois oragos: São João Batista e Santa
Brízida ou Brígida. Ambos os oragos estão relacionados com a água, daí o
iniciar este percurso na Igreja/Largo de São João Batista, ao Lumiar.
Imagem 01. Altar de São João Batista no Lumiar com
8 degraus
Uma das descrições de S. João Batista, primo de Jesus Cristo. É «Aquele que
batiza em água», sendo que S. João Batista batizou o próprio Cristo nas águas
do Rio Jordão.
Algumas citações sobre João Batista:
No Evangelho de São Mateus: 3,11 Eu
[João Batista] batizo-vos em água para vos mover ao arrependimento; mas Aquele
que vem depois de mim é mais poderoso do que eu e não sou digno de Lhe levar as
sandálias. Ele [Jesus Cristo] batizar-vos-á com o fogo do Espírito Santo.
Imagem 02. Fachada com frontão superior. Barroco
tardio, de inspiração borromínica, talvez do arquiteto português Mateus Vicente
de Oliveira ou algum dos seus colaboradores
Em São Lucas: 3,16 - João [Batista]
disse-lhes a todos: «Eu batizo-vos em água, mas vai chegar Quem é mais poderoso
do que eu, Alguém cujas correias das sandálias não sou digno de desatar.
Batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo».
Em São João [o Evangelista]: 1,26 - João [Batista] respondeu-lhes: «Eu
batizo em água; mas, no meio de vós, encontra-se Alguém que não conheceis; 1,27
- Aquele que vem depois de mim; e eu não sou digno de desatar a correia da Sua
sandália». 1,28 - Isto passou-se em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João
estava a baptizar. 1,33 - E eu não O conhecia [refere-se a Jesus
Cristo], mas Aquele que me enviou a batizar em água, é que me disse: «Aquele
sobre Quem vires o Espírito descer e permanecer é que batiza no Espírito Santo.
Em São Marcos:
1,8 - «Eu [João Batista] batizarei em água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito
Santo».
Nos Atos dos Apóstolos:
1,5 - «Porquanto João [Batista], batizava em água, mas dentro de pouco tempo,
vós sereis baptizados no Espírito Santo».
Na reconstrução desta Igreja entram vestígios manuelinos mas pode
classificar-se mais propriamente nos estilos maneirista e barroco. Antes da reconstrução
já existia outro templo, pois encontram-se ali encastradas e legendadas as três
sepulturas referentes aos cavaleiros Hibérnios (da atual Irlanda) que, segundo
a tradição e algumas fontes, trouxeram, no tempo de D. Dinis, a relíquia de
Santa Brízida, destinada ao mosteiro de Odivelas. Porém, e milagrosamente,
segundo algumas descrições e a lenda popular, a relíquia preferiu ficar no
Lumiar, estando os restos depositados na igreja local.
Sendo este templo votado, em especial, a São João Batista, a sua imagem
encontra-se ali num altar com 8 degraus. O número 8 está ali velado nos 8
degraus. Não será por acaso. O próprio padre João Caniço, numa entrevista in
loco, respondendo à minha questão sobre o significado revelou-me tratar-se
efetivamente duma referência à Maçonaria, pois esta Organização tem o número 8
como um dos mais simbólicos e tem ainda São João Batista em particular devoção.
03. Imagem de Santa Brígida com alguns dos
elementos que mais a caraterizam: água em potes e a proteção dos animais
Santa Brízida ou Brígida
Também de importância particular no universo da cultura céltica é Santa Brízida
que, segundo algumas interpretações, terá sido uma antiga deusa pagã convertida
ao cristianismo e tornada santa. Há ali, na igreja do Lumiar, vários
patrimónios, materiais e imateriais, associados a esta santa,
internacionalmente venerada no Lumiar. A relação desta santa com São João
Batista e com a água não é despropositada:
Primeiro -
Ambos são venerados no Lumiar. A São João Batista foi-lhe cortada a cabeça, bem
como a Santa Brízida. A cabeça desta Santa ficou, milagrosamente no Lumiar
quando os três cavaleiros hibérnios (também sepultados na igreja) a trouxeram
para Portugal no ano de 1283, reinando D. Dinis.
04. Imagem da 3ª sepultura dos cavaleiros hibérnios
que trouxeram a relíquia de Santa Brízida oferecida a Portugal através dos reis
D. Dinis e Santa Isabel
Legenda na sepultura:
«AQUI NESTAS TRES SEPVLTURAS IAZÊ[M]
ENTERADOS OS TRES CAVAL.ros / IBERNIOS Q[UE] TOVXERÃ[M] A CABECA DA B~E[M]
AV~[E]NTURADA S. BRIZIDA VIR / G~E[M] NATVRAL DIBERNIA CUIA RELIQVIA ESTA NESTA
CAPELA P[AR]A MEMO / RIA DO QVAL HOS OFICIAIS DA MESA DA B~E[M] AVENTURADA S.
MÃODA / RÃO FAZER ESTE E~[M] IAN[EI]RO DE 1283»
Segundo –
Santa Brízida é protetora do mundo rural, não só dos animais, como dos
pastores, do sol e do fogo; associada também à luz, à água e à fertilidade.
Durante vários séculos no Lumiar e em Telheiras do termo da freguesia do Lumiar
se fizeram romarias com gado e procissões a pedir proteção e chuva.
Invoca-se a proteção de Santa Brígida, nomeadamente para que não falte água. A
imagem pictórica de Santa Brígida tem junto a si dois recipientes, o inferior
virado para a Terra e o superior virado para o Céu.
MOMENTO II - Caneças
05. Imagem do Brasão de Caneças
Com imagem de um cântaro no escudo de armas e bandeira da vila de Caneças
é constituído pela iconografia relativa à presença de água. Uma bilha vermelha
representa a água, o barro e a vida, envolvido com ramos de hera cuja planta
está associada à simbologia da imortalidade e à força da vida vegetal.
Das cinco fontes que conhecemos em Caneças, apenas incluímos aqui a denominada
“Fontainhas”. Por sinal é uma das que apresenta menos decoração. É a que está
mais acessível ao público e tem significado para a cidade de Lisboa. Do lado
oposto, apenas separado pela estrada, está situado o tanque das lavadeiras, tão
conhecidas em Lisboa, inclusivamente pela voz de Amália Rodrigues.
06. Imagem da Fonte das Fontaínhas
«Dos fregueses a conduta / é pela roupa que se prova. / Mas lavada e bem
enxuta / até fica como nova. Com Lisboa sem vaidade / a saloia pede meças. / Há
mais burros na cidade / do que há burros em Caneças! […]». Extrato “As Lavadeiras de Caneças” na
revista a Rambóia, 1928. in http://jepleuresansraison.com/2009/12/23/amalia-1967-as-lavadeiras-de-canecas/
07. Imagem de Aguadeiro junto à Fonte das
Fontainhas
Na decoração do acesso às Fontainhas podemos encontrar várias imagens
bidimensionais em nichos nas paredes, representando as cenas do fornecimento de
água, produtos, transportes e animação relacionados com Lisboa. Estas imagens
iconográficas revelam valor etnográfico, respeitante à primeira metade do
século XX.
08. Imagem de Lavadeiras junto à Fonte das
Fontainhas
Por aqui se encontram edifícios e aquedutos que vão juntar-se a outros da parte
ocidental de Caneças, Olival Santíssimo e outros ainda a jusante, seguindo
quase paralelos à ribeira do sopé de Caneças, Casal e Serra da Silveira. Mais
adiante estas nascentes e ribeira tomam o nome de Ribeira de Carenque.
09. Imagem de vestígios da barragem romana ao lado
de estruturas das Águas Livres do séc. XVIII
Junto à estrada EN250, encontram-se os restos arqueológicos da Barragem Romana.
Construída há cerca de 1750 anos, no século III, e cerca de 1500 antes das
obras denominadas Águas Livres.
Ambas as estruturas, romanas e das
Águas Livres, foram executadas para o fornecimento de água a Lisboa. Na altura
da barragem o acesso do caudal à capital seria feito por Santo André, junto à
Graça evitando, assim, a obra quase faraónica do aqueduto das Águas Livres em
Alcântara. Contudo a barragem romana constituía uma inovação até mesmo em
relação às Águas Livres do século XVIII/XIX pois o reservatório em barragem
garantiria um caudal regular entre as várias épocas do ano.
10. Imagem da bacia da antiga barragem romana
Os vestígios da barragem romana encontram-se classificados como Imóvel de
Interesse Público. Para lá desta classificação existe uma proposta da CM Sintra
a fim de incluir os terrenos outrora abrangidos pela barragem. Consta que
várias estruturas e vestígios do aqueduto das Águas Livres estão sobrepostos às
antigas fundações romanas que seguiam o mesmo percurso ou muito próximo.
11. Imagem de Águas Livres, século XVIII – no
envolvimento da antiga barragem romana
Na realidade encontrei vários pontos dos aquedutos onde a edificação é bem
discernível, entre uma camada superior e outra inferior, como se de duas fases
bem distintas no tempo e/ou na técnica se tratasse. Contudo não tenho a certeza
se a camada inferior é efetivamente romana. De qualquer modo, a estrutura
executada no século XVIII terá aproveitado muitos materiais líticos e partes do
aqueduto romano, seguindo de perto a ribeira de Belas, Carenque e Amadora.
12. Imagem do aqueduto de Alcântara.
Visita guiada com o Grupo dos Amigos do Museu das Comunicações
Tags: Águas Livres, barragem romana, Belas, Caneças, Carenque, Lisboa, Lumiar, património imaterial, património tangível, Santa Brízida ou Brígida, São João Batista.
Fontes:
-Anciães, Alfredo Ramos; Janeira, Ana Luisa et
al. Lisboa Entre Águas e Manufacturas. Lisboa: CML, iniciativa do
Departamento do Património Cultural, colaboração de Marcas das Ciências e das
Técnicas por altura do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.- Resumo in
Agenda Cultural de Lisboa, Abril, 20o9
-Bíblia Sagrada – Lisboa: Difusora Bíblica
(Missionários Capuchinhos), 1984
-Fernandes, Júlio Cortez – Notas de aulas de
Património Local em Universidade Sénior de Massamá e Monte Abraão, 2015/2015
-Nunes, Gabriela - Lisboa guarda segredos
milenares. Santa Brígida, uma deusa céltica no Lumiar. Lisboa: Apenas
Livros, 2011
Em
linha--»
-Anciães, Alfredo Ramos - Pelos Trilhos do
Conhecimento: Lisboa Entre patrimónios e Águas Livres http://comunidade.sol.pt/blogs/alfredoramosanciaes/archive/2009/03/20/PELOS-TRILHOS-DO-CONHECIMENTO_3A00_-LISBOA-ENTRE-PATRIM_D300_NIOS-E-_C100_GUAS-LIVRES.aspx
-Guedes, Gustavo - Significado dos
símbolos http://www.significadodossimbolos.com.br/busca.do?simbolo=Hera
-Junta de Freguesia de Caneças - Vila de
Caneças, brasão de armas e bandeira http://www.ahbvc.pt/Canecas.htm ; http://www.ahbvc.pt/Canecas.htm
-Portal
de Portugal / Wikimedia – Caneças https://pt.wikipedia.org/wiki/Cane%C3%A7as
-Rodrigues, Amália (intérprete); Magalhães, Xavier de (letra); Freitas, Frederico de (música) - “As Lavadeiras [de Caneças]” . Executada inclusivamente no Olympia de Paris in http://jepleuresansraison.com/2009/12/23/amalia-1967-as-lavadeiras-de-canecas/ ; https://www.youtube.com/watch?v=9KNQWlVuSvY. Veja também http://aofundodaminharua1.blogspot.pt/2013/12/lavadeiras-de-canecas-da-revista.html ; http://porbase.bnportugal.pt/ipac20/ipac.jsp?session=1NO12801Y5069.415182&profile=porbase&uri=link=3100018~!1145936~!3100024~!3100022&aspect=basic_search&menu=search&ri=1&source=~!bnp&term=Freitas%2C+Alice%2C+ca+19--&index=AUTHORenu=search&ri=1&source=~!bnp&term=Freitas%2C+Alice%2C+ca+19--&index=AUTHOR
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