sexta-feira, 5 de julho de 2013

MARCAS EM CARNIDE: DA LUZ AO ESPÍRITO DE BAIRRO

Aborda-se, nesta visita uma seleção de patrimónios materiais de valor artístico, mas também a vertente imaterial ou espiritual de Carnide, como terra de “luz”, devoção, romaria, feira e festa com a particularidade rara de dois patronos/oragos (Senhora da Luz e São Lourenço). Não esquecemos o culto histórico ao Espírito Santo no Alto do Poço (atrium ancestral de Carnide) e a fixação de comunidades religiosas, tais como os Templários, no seguimento da reconquista. Referiremos também o papel da Ordem de Cristo, bem como o papel dos Franciscanos, entre outras irmandades que aqui desenvolveram e desenvolvem trabalho social, cultural e humanitário.
            O turista recém-chegado a Carnide que entre de súbito pela zona histórica, vindo pela Estrada da Luz até à Rua da Fonte e encontre um edifício com a construção interrompida, há vários anos, às portas do bairro histórico, dirá que Carnide é uma freguesia parada no tempo, sem alma e sem gosto. Porém, se o mesmo turista se tornar visitante atento, sem clichês pré-concebidos, se começar por fruir um pouco do renovado Jardim da Luz, entrar na igreja, ler e meditar sobre o que foi e o que é o complexo religioso, educacional e social do Largo/Jardim da Luz;
            Se entrar nos espaços tradicionais e referenciais, “Restaurante Jardim da Luz, Carnide Clube, Espassus 3G, Teatro D. Luís Filipe, Centros Culturais e Biblioteca Natália Correia”, entre outros;
            Se fizer uma visita aos edifícios e organizações com sede nos ex-conventos; se analisar a obra realizada pela Junta de Freguesia e Câmara Municipal, destacando-se o apoio à cultura e a várias organizações de âmbito social e comunitário;
            Se participar em eventos nos teatros, centros culturais e igrejas; se assistir aos programas “Viva a Música – Música Portuguesa RTP”, no Largo da Luz, apresentado regularmente por Armando Carvalhêda;

            Se visitar exposições na sede da Junta de Freguesia e outros espaços comunitários, apreciar locais em que perdura uma tradição e um “espírito de bairro”; então o visitante atento, ficará com uma ideia bem diferente de Carnide daquela com que se deparou ao entrar subitamente na freguesia.

            O “bairro histórico” e a freguesia merecem ser observados na sua totalidade, de preferência com uma explicação prévia, tendo em conta a herança patrimonial de Carnide. Nos tempos difíceis que correm, as instituições desta freguesia e paróquia conseguem dar apoio social, cultural e humanitário às populações num esforço meritório e de referência.

            Carnide suscita particular interesse, até como caso de estudo, começando pelos significados etimológicos, passando pelo seu historial, o sentido das suas marcas culturais e patrimoniais, a “Luz”, o “Espírito Santo”, o “Espírito de Bairro” que teimam em prevalecer entre as comunidades que aqui são referência.
            É altura de uma abordagem integrada desta freguesia e paróquia. Tal abordagem holística não será por nós conseguida mas vamos iniciá-la e à nossa maneira. Contando com a sua participação conseguiremos, certamente, ampliar a informação e renovar o interesse para fruir este ex “termo” de Lisboa.

            Falaremos da origem do culto a Nossa Senhora da Luz, da Purificação ou da Candelária com raizes em Israel mas sendo igualmente um fenómeno de divulgação quase exclusivo da portugalidade.

            Abordaremos motivações para o apoio ao culto mariano e outros santos, a que não serão alheios  factores como os ligados à Contra-Reforma e ao Concílio de Trento. E ainda a popularidade do culto, festas e folias à volta do Espírito Santo que, em muitos casos, deixou de agradar à Igreja maioritária, bem como ao poder político.

            Tal popularidade e manifestações à volta do Espírito Santo tornaram-se perigosas (ou, pelo menos, pensaram ser perniciosas) para a manutenção da ordem. Daí a extinsão ou apagamento destas manifestações em Portugal continental. Acabou por se salvar o culto, folias e “impérios” nos Açores e no Brasil onde, longe da corte e da posição mais “ortodoxa”/romana, sobreviveu, não obstante as proibições civís e a retirada de apoios do clero maioritário nos espaços de culto, nas procisões e nas folias.

            Este culto em Carnide leva-nos ainda a falar dos Templários e das teorias milenaristas do monge cisterciense Joaquim de Fiore mas também das raizes judaicas e bandárricas (de Bandarra – célebre sapateiro de Trancoso, de que há marcas em Carnide). O milenarismo e o culto do Espirito Santo leva-nos ainda a referir o padre António Vieira, Fernando Pessoa, António Quadros e Agostinho da Silva.

            Tal como aconteceu com o culto de Nossa Senhora da Luz, o culto do Divino Espírito Santo (hoje em dia alterado), também é um fenómeno de divulgação pelo mundo através dos povos lusófonos, sobretudo no mundo ocidental. Aproveita-se para a demanda de um pouco de “luz” sobre o modo como o conceito de Espírito Santo evoluiu até ser considerado Deus, a par do Pai e do Filho, com identidade e vontade própria e sobre o modo como este culto chegou a Portugal, tudo indica que, pelos franciscanos e com o apoio de Isabel de Aragão (raínha santa). 

            Dedicaremos também umas palavras:

- À questão “Filioque” que terminou no cisma bizantino e na separação das igrejas - grega e de Constantinopla, em relação à igreja latino-romana por causa da procedência do Espírito Santo. E também no abandono, direto ou indireto, do culto ao Espírito Santo em Portugal continental o que se traduziu em maiores incentivos ao cultos dos santos, particularmente ao culto a Nossa Senhora e, daí, a introdução e incentivo do culto a Nossa Senhora da Luz, a partir de Carnide.

            Teremos um apontamento sobre vários conventos ou casas religiosas e as novas funções que desempenham. Veremos  marcas ligadas ao Correio-Mor e outras marcas de correios e telecomunicações.

            - Dedicaremos umas palavras a D. Maria (1521 - 1577) filha do rei D. Manuel I, uma das infantas mais ricas e mais belas do mundo de então; referiremos alguns poemas de Camões, que  pensamos também ter frequentado Carnide, motivado pelo amor impossível ou interditado à infanta que repousa na capela-mor da Igreja da Luz, após tresladação do Mosteiro da Madre de Deus, de Xabregas.

            Fazemos uma abordagem às marcas rurais deixadas na toponímia: azinhagas e quintas, bem como às marcas da urbanização com a passagem de Carnide para o Município de Belém (1852 - 1885).

            Umas palavras também à gestão autárquica, restauração e animação num espaço histórico que sendo alfacinha está perto e longe do bulício de Lisboa. Perto fisicamente, e, longe do ponto de vista psicológico, proporcionando ao habitante e visitante uma certa ruralidade que o poder local tem acautelado como marca de valorização do território e identidade bairrista.
 

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