Aborda-se, nesta visita uma seleção de
patrimónios materiais de valor artístico, mas também a vertente imaterial ou
espiritual de Carnide, como terra de “luz”, devoção, romaria, feira e festa com
a particularidade rara de dois patronos/oragos (Senhora da Luz e São Lourenço).
Não esquecemos o culto histórico ao Espírito Santo no Alto do Poço (atrium
ancestral de Carnide) e a fixação de comunidades religiosas, tais como os
Templários, no seguimento da reconquista. Referiremos também o papel da Ordem
de Cristo, bem como o papel dos Franciscanos, entre outras irmandades que aqui
desenvolveram e desenvolvem trabalho social, cultural e humanitário.
O
turista recém-chegado a Carnide que entre de súbito pela zona histórica, vindo
pela Estrada da Luz até à Rua da Fonte e encontre um edifício com a construção
interrompida, há vários anos, às portas do bairro histórico, dirá que Carnide é
uma freguesia parada no tempo, sem alma e sem gosto. Porém, se o mesmo turista
se tornar visitante atento, sem clichês pré-concebidos, se começar por fruir um
pouco do renovado Jardim da Luz, entrar na igreja, ler e meditar sobre o que
foi e o que é o complexo religioso, educacional e social do Largo/Jardim da Luz;
Se
entrar nos espaços tradicionais e referenciais, “Restaurante Jardim da Luz,
Carnide Clube, Espassus 3G, Teatro D. Luís Filipe, Centros Culturais e
Biblioteca Natália Correia”, entre outros;
Se
fizer uma visita aos edifícios e organizações com sede nos ex-conventos; se analisar
a obra realizada pela Junta de Freguesia e Câmara Municipal, destacando-se o
apoio à cultura e a várias organizações de âmbito social e comunitário;
Se
participar em eventos nos teatros, centros culturais e igrejas; se assistir aos
programas “Viva a Música – Música Portuguesa RTP”, no Largo da Luz, apresentado
regularmente por Armando Carvalhêda;
Se visitar exposições na sede da Junta de Freguesia e outros
espaços comunitários, apreciar locais em que perdura uma tradição e um “espírito
de bairro”; então o visitante atento, ficará com uma ideia bem diferente de
Carnide daquela com que se deparou ao entrar subitamente na freguesia.
O “bairro histórico” e a freguesia merecem ser observados
na sua totalidade, de preferência com uma explicação prévia, tendo em conta a
herança patrimonial de Carnide. Nos tempos difíceis que correm, as instituições
desta freguesia e paróquia conseguem dar apoio social, cultural e humanitário às
populações num esforço meritório e de referência.
Carnide suscita particular
interesse, até como caso de estudo, começando pelos significados etimológicos, passando
pelo seu historial, o sentido das suas marcas culturais e patrimoniais, a “Luz”,
o “Espírito Santo”, o “Espírito de Bairro” que teimam em prevalecer entre as
comunidades que aqui são referência.
É altura de uma abordagem
integrada desta freguesia e paróquia. Tal abordagem holística não será por nós conseguida
mas vamos iniciá-la e à nossa maneira. Contando com a sua participação
conseguiremos, certamente, ampliar a informação e renovar o interesse para
fruir este ex “termo” de Lisboa.
Falaremos
da origem do culto a Nossa Senhora da Luz, da Purificação ou da Candelária com
raizes em Israel mas sendo igualmente um fenómeno de divulgação quase exclusivo
da portugalidade.
Abordaremos
motivações para o apoio ao culto mariano e outros santos, a que não serão
alheios factores como os ligados à
Contra-Reforma e ao Concílio de Trento. E ainda a popularidade do culto, festas
e folias à volta do Espírito Santo que, em muitos casos, deixou de agradar à
Igreja maioritária, bem como ao poder político.
Tal
popularidade e manifestações à volta do Espírito Santo tornaram-se perigosas
(ou, pelo menos, pensaram ser perniciosas) para a manutenção da ordem. Daí a
extinsão ou apagamento destas manifestações em Portugal continental. Acabou por
se salvar o culto, folias e “impérios” nos Açores e no Brasil onde, longe da
corte e da posição mais “ortodoxa”/romana, sobreviveu, não obstante as proibições
civís e a retirada de apoios do clero maioritário nos espaços de culto, nas procisões
e nas folias.
Este
culto em Carnide leva-nos ainda a falar dos Templários e das teorias
milenaristas do monge cisterciense Joaquim de Fiore mas também das raizes
judaicas e bandárricas (de Bandarra – célebre sapateiro de Trancoso, de que há
marcas em Carnide). O milenarismo e o culto do Espirito Santo leva-nos ainda a
referir o padre António Vieira, Fernando Pessoa, António Quadros e Agostinho da
Silva.
Tal
como aconteceu com o culto de Nossa Senhora da Luz, o culto do Divino Espírito
Santo (hoje em dia alterado), também é um fenómeno de divulgação pelo mundo
através dos povos lusófonos, sobretudo no mundo ocidental. Aproveita-se para a demanda
de um pouco de “luz” sobre o modo como o conceito de Espírito Santo evoluiu até
ser considerado Deus, a par do Pai e do Filho, com identidade e vontade própria
e sobre o modo como este culto chegou a Portugal, tudo indica que, pelos
franciscanos e com o apoio de Isabel de Aragão (raínha santa).
Dedicaremos
também umas palavras:
- À questão “Filioque” que
terminou no cisma bizantino e na separação das igrejas - grega e de Constantinopla,
em relação à igreja latino-romana por causa da procedência do Espírito Santo. E
também no abandono, direto ou indireto, do culto ao Espírito Santo em Portugal
continental o que se traduziu em maiores incentivos ao cultos dos santos,
particularmente ao culto a Nossa Senhora e, daí, a introdução e incentivo do
culto a Nossa Senhora da Luz, a partir de Carnide.
Teremos
um apontamento sobre vários conventos ou casas religiosas e as novas funções
que desempenham. Veremos marcas ligadas
ao Correio-Mor e outras marcas de correios e telecomunicações.
-
Dedicaremos umas palavras a D. Maria (1521
- 1577) filha do rei D. Manuel I, uma das infantas mais ricas e mais
belas do mundo de então; referiremos alguns poemas de Camões, que pensamos também ter frequentado Carnide,
motivado pelo amor impossível ou interditado à infanta que repousa na
capela-mor da Igreja da Luz, após tresladação do Mosteiro da Madre de Deus, de
Xabregas.
Fazemos
uma abordagem às marcas rurais deixadas na toponímia: azinhagas e quintas, bem
como às marcas da urbanização com a passagem de Carnide para o Município de
Belém (1852 - 1885).
Umas palavras também à gestão
autárquica, restauração e animação num espaço histórico que sendo alfacinha
está perto e longe do bulício de Lisboa. Perto fisicamente, e, longe do ponto
de vista psicológico, proporcionando ao habitante e visitante uma certa ruralidade
que o poder local tem acautelado como marca de valorização do território e identidade
bairrista.
Sem comentários:
Enviar um comentário