Sempre gostei de
eventos baseados em números redondos e quanto mais antigos mais fascínio e
respeito me sugerem. Este ano de 2015, representa, note-se bem, o milésimo ano em que o
árabe Ibn al-Haytham escreveu um tratado em sete volumes sobre a ótica e a luz.
E não esgotou, de forma alguma, o tema. Nos tempos atuais em que as comunidades
árabes e islâmicas são vistas, por muitos, de soslaio, conviria distinguir o
trigo do joio, olhar para os bons exemplos e para o período clássico da
civilização árabe com respeito. Observar o outro pelo lado da confiança, já é
como que uma iluminação da alma, um modo para início da convivência.
Considera-se aqui a
luz nas perspetivas: tecnológica, económica, cultural e religiosa. Dois
exemplos da perspetiva religiosa: A luz apareceu durante 30 dias a Pedro (ou
Pêro) Martins, de Carnide (1). Terá sido um sonho continuado, alucinação e/ou
realidade do foro da crença religiosa. Uma senhora resplandecente apareceu
igualmente aos pastorinhos de Fátima, onde também ocorreu o milagre coletivo do
sol (=luz). Estes fenómenos mostram que a luz não tem apenas mera importância
técnica e económica.
Quando Camões
recorre ao pleonasmo, «vi, claramente visto, o lume vivo [...] (2)» está a dar
importância à luz e à visão renascentista que transcendem os acontecimentos e
as vivências do dia-a-dia.
Os fogos de
santelmo relatados por Camões parecem provir de descargas elétricas da
atmosfera sobre os mastros dos navios. Sendo, porém, um fenómeno natural, a luz
parece transcender a utilidade prática da iluminação e do crescimento dos seres
vivos.
Também não terá
sido por acaso que a seguir ao caos, a referência bíblica, logo a seguir à
criação dos céus e da terra foi «Faça-se a luz [...] (Génesis 1,3).
Portugal foi um dos
países que cedo utilizaram e inovaram as comunicações visuais ampliadas com
instrumentos de ótica, desde o início do século XIX, decaindo a sua utilização
a partir de meados do século com a introdução das telegrafias elétricas;
contudo, quer seja com telegrafias visuais, óticas ou elétricas, comunicações telefónicas,
transmissão de dados, utilizamos sempre a luz, natural ou de corrente elétrica.
Sem luz não haveria
a maior parte, senão todos, os géneros de vida que conhecemos. A começar pela
luz do sol e das estrelas que nos proporcionam o aquecimento, a luminosidade, a
transmissão de fotões e de ondas necessárias ao desenvolvimento físico e
comunicacional. “O sol [como quem diz a luz] quando nasce é [ou deveria ser]
para todos”.
Se a luz natural ou
artificial nos chegar fraca ou obscurecida, o que acontece devido a atentados,
guerras e poluições; a qualidade de vida e a própria vida ficam em risco. O aproveitamento da luz do sol como gerador elétrico
pode evitar as energias poluentes e não renováveis.
Com a introdução
dos novos condutores e equipamentos, a luz e as tecnologias de transmissão e
comunicação são largamente utilizadas, desde os cabos de fibra ótica, até à
receção em ecrãs, plasmas, monitores, visores, onde os fotões e eletrões são captados.
As tecnologias
baseadas na luz, evocadas no Ano Internacional 2015, são imensas e aplicadas na
geração, transporte e acumulação de energia que é, também, fonte de luz. Existe
uma miríade de equipamentos e acessórios relacionados com a luz, força motriz,
iluminação, comunicação, captação de fotos, radiografias, raios X e
ressonâncias eletromagnéticas, entre outros.
As
telegrafias aéreas ou visuais com os instrumentos de ótica começaram o seu
percurso nos finais do século XVIII. Porém, quando são inventadas as
telegrafias elétricas, a luz (transmissão de fotões e eletrões) não deixa de
estar presente, antes reforça a sua presença, através de fios e cabos, ou
através do espaço radioelétrico.
Com tudo isto, não
deixa de ser enigmático mesmo à luz dos conhecimentos de hoje, a quantidade de
informação e velocidades conduzidas pela fibra ótica.
A sigla «AIL2015
[ou em inglês] IYL2015» já não nos deveria ser estranha neste final de ano
2015. Contudo a escassa divulgação não tem correspondido à importância do
evento. A UNESCO fez o seu papel, não esqueceu o tema, considerando-o da maior
relevância, por isso, com a devida antecedência, em 20 de dezembro de 2013 na
68ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o ano de 2015 como o
Ano Internacional da Luz e das Tecnologias Baseadas em Luz (International
Year of Light and Light-based Technologies – IYL 2015 (3).
Foi com muito
agrado que vimos a informação de que o Museu dos CTT de Macau (criado ainda
pela administração portuguesa) aderiu ao programa de divulgação/exposição do Ano
Internacional da Luz e das Tecnologias Baseadas em Luz. O Museu dos CTT de
Macau está de parabéns. Por aqui, pela Europa e pela lusofonia, a luz, nas suas
várias interpretações, parece andar algo arredada da imprensa, arquivos,
bibliotecas e museus.
Que a luz e as suas
tecnologias passem a ser objeto de maior atenção, como setor promissor para o
futuro da humanidade. Com o ensejo de que as comemorações e as aplicações
práticas do Ano Internacional se prolonguem para lá de dezembro de 2015 e que
apostem no futuro.
Tags: Ano internacional da luz,
cultura da luz, cabo de fibra ótica, ótica na medicina, ótica na exploração do
espaço, ótica nas telecomunicações, luz e fé, luz e religião
Notas:
(1)cf. Nossa Senhora da Luz de Carnide - http://www.lendarium.org/narrative/nossa-senhora-da-luz-de-camide/?tag=2225
(2)CAMÕES, Luís de – Os Lusíadas, Canto V:18,1
Fontes:
-ANCIÃES, Alfredo Ramos - alma e luz de
carnide – Lisboa: Apenas Livros, 2013
-ARAÚJO, António de Sousa - O Santuário da Luz –
glória de Carnide. Braga: Livraia Editora Pax Ldª, 1977;
Em linha, acedidos em 23.9.2015
ANCIÃES, Alfredo Ramos - A Telegrafia não-elétrica
e o luso contributo de Francisco António Ciera - http://museologiaporto.ning.com/profiles/blogs/30-a-telegrafia-tradicional-n-o-el-trica-e-o-luso-contributo-de
ARAÚJO, António de Sousa ; FRAZÃO, Fernanda – Nossa
Senhora da Luz, de Carnide - http://www.lendarium.org/narrative/nossa-senhora-da-luz-de-camide/?tag=2225
-Ibn Al-Haytham and the
Legacy of Arabic Optics - http://www.light2015.org/Home/ScienceStories/1000-Years-of-Arabic-Optics.html
-Museu das Comunicações: Correios de Macau - http://macao.communications.museum/por/main.html
-Sobre o Ano Internacional da Luz 2015 - http://ail2015.org/index.php/ail2015/
-UNESCO - Representação da Unesco no Brasil: Ano
Internacional da Luz -http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/prizes-and-celebrations/2015-international-year-of-light/
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