A uso da telegrafia não-elétrica
perde-se no tempo. Os sinais de gritos,
fumos, fogos, tambores, búzios, trompas, etc., datam possivelmente dos
princípios da organização social de grupos e tribos. Com o evoluir das
sociedades foram-se aprimorando e inventando códigos de comunicação e
equipamentos capazes de receber e transmitir sinais de e para grandes
distâncias. Citadas frequentemente por: telegrafia visual, telegrafia aérea, telegrafia
óptica e telegrafia semafórica; esta telegrafia não-elétrica permite enviar
mensagens à distância, através do espaço aéreo visível, daí a adjetivação de telegrafia
visual.
Distingue-se do correio
clássico/tradicional porque este implica o transporte das mensagens em suportes
físicos (cartas, bilhetes ou quaisquer objetos informativos) por terra, ar ou
mar. A telegrafia não-elétrica baseia-se, pois, na transmissão e receção de
sons (ex.: trompas, tambores); luzes (ex.: fogos, antigos faróis) e imagens
de objetos (ex.: balões, bandeirolas, bandeiras, galhardetes, abertura e fecho
de palhetas ou persianas) desde que configurem sinais compreensíveis para quem
transmite e para quem recebe.
Esta configuração de sinais assenta
em códigos de linguagem. O código mais conhecido foi o de Samuel Finley Breese
Morse, utilizado sobretudo na telegrafia elétrica mas também na telegrafia tradicional
não-elétrica na forma de sinais luminosos derivados do sol – isto é, na
heliografia com auxílio de espelhos e instrumentos de ótica. O código de
Morse foi ainda utilizado em sistemas homográficos, lanternas de sinais,
semáforos, bandeirolas. Outros códigos muito utilizados foram o de
bandeiras e galhardetes, especialmente o CIS (Código Internacional de Sinais);
códigos de faróis; código de Chappe, francês; código de Edelcrantz,
sueco; código de balões ou bolas, inglês; código de Francisco António Ciera,
português, a que o autor deu o nome de "taboas telegraphicas".
A telegrafia não-elétrica também tem
sido adjetivada de óptica (telegrafia óptica), quando os divulgadores ou
utilizadores pensam em termos dos equipamentos óticos, envolvendo telescópios,
óculos ou binóculos de aumento que permitem observar os sinais ao longe. As
distâncias entre postos telegráficos podem atingir dezenas de quilómetros em
cada salto de emissão/receção (1). Outras vezes esta telegrafia é adjetivada de
aérea, visual e semafórica, quando é pensada em termos de sinais transmitidos
pelo espaço aéreo visível. Ex. a visão de sinais com: balões, bandeirolas,
bandeiras, galhardetes, fogos, abertura e fecho de obturadores. Para obviar a estas
confusões de designações diferentes para a mesma coisa, ou semelhante,
sugiro a seguinte classificação para a telegrafia tradicional não-elétrica
subdividindo-se em:
1 – Telegrafia visual simples
com: fumos, fogos, búzios, trompas ... ,
sem auxílio de instrumentos de ampliação dos sinais;
com: fumos, fogos, búzios, trompas ... ,
sem auxílio de instrumentos de ampliação dos sinais;
2 – Telegrafia visual ampliada
com instrumentos de ótica, isto é,
telégrafos: do francês Claude Chappe; do sueco Abraham
Edelcrantz e do português Francisco Ciera.
telégrafos: do francês Claude Chappe; do sueco Abraham
Edelcrantz e do português Francisco Ciera.
A caraterística mais
saliente desta telegrafia assenta nos processos manuais e mecânicos, não-elétricos.
Em finais do século XVIII e século
XIX aparecem os telégrafos não-elétricos em linhas de comunicação que alcançam,
por vezes, centenas de quilómetros. Os telégrafos modelo Chappe (dos irmãos
gauleses Chappe) foram utilizados na defesa e na guerra; na administração
pública, entre altos funcionários e a família real.
Mais ou menos contemporâneos são os telégrafos suecos modelo de Abraham Edelcrantz (2) e os ingleses, denominados telégrafos de balões ou de bolas baseados, em nosso entender, em equipamentos e códigos complexos para poderem transmitir mensagens rápidas. Estes telégrafos (de Chappe, de Edelcrantz e de balões) não se adequavam facilmente ao serviço de exércitos em campanha. O relativo défice de utilidade do modelo francês contribuiu, em nosso entender, para a derrota das tropas napoleónicas na Guerra Peninsular; porquanto não temos conhecimento de qualquer informação sobre o uso deste telégrafo de Chappe em Portugal. A instalação e o porte deste telégrafo a milhares de quilómetros era tarefa ciclópica. O mesmo não aconteceu do lado luso-inglês na 3ª invasão a Portugal onde, a par dos telégrafos de balões, foram instalados os modelos lusos inovados por Francisco Ciera. Pela primeira vez, nas Linhas de Torres, a tecnologia comunicacional entre os dois Exércitos marca uma diferença assinalável.
Mais ou menos contemporâneos são os telégrafos suecos modelo de Abraham Edelcrantz (2) e os ingleses, denominados telégrafos de balões ou de bolas baseados, em nosso entender, em equipamentos e códigos complexos para poderem transmitir mensagens rápidas. Estes telégrafos (de Chappe, de Edelcrantz e de balões) não se adequavam facilmente ao serviço de exércitos em campanha. O relativo défice de utilidade do modelo francês contribuiu, em nosso entender, para a derrota das tropas napoleónicas na Guerra Peninsular; porquanto não temos conhecimento de qualquer informação sobre o uso deste telégrafo de Chappe em Portugal. A instalação e o porte deste telégrafo a milhares de quilómetros era tarefa ciclópica. O mesmo não aconteceu do lado luso-inglês na 3ª invasão a Portugal onde, a par dos telégrafos de balões, foram instalados os modelos lusos inovados por Francisco Ciera. Pela primeira vez, nas Linhas de Torres, a tecnologia comunicacional entre os dois Exércitos marca uma diferença assinalável.
1- de palhetas, 2- de ponteiro e 3 - de balões ou bolas;
relevamos o de palhetas, baseado no modelo sueco e que Ciera filho modificou de modo a torná-lo mais leve, simples de utilizar e com mais possibilidades de transmissão da informação. Simultaneamente Ciera filho inventou o novo código - "taboas telegraphicas" baseado apenas em:
8 sinais: números 1 a 6, mais o ponto e o sinal de igual;
ao passo que o modelo inglês implicava 64 sinais, o francês 256 e o sueco 1024; logo, menos práticos. Além da facilidade de transmitir e da diminuição do volume e peso do seu telégrafo, o equipamento de Ciera permitia praticamente a transmissão de informação até ao infinito, apenas com a combinação dos referidos 8 sinais. Não admira, pois, que o duque de Wellington (5) tenha ficado impressionado, incentivando a adoção dos telégrafos portugueses de Ciera por altura da 3ª invasão francesa.
Ainda em relação ao telégrafo de
balões, baseado no modelo inglês, Ciera elimina-lhe vários balões, roldanas e
cordas e aplica-lhe também o seu código simplificado de apenas 8 sinais. Por tão
relevante serviço Ciera filho foi reconhecido no seu tempo; e em 2013 e 2014
foi homenageado em Torres Vedras e concelhos por onde passam as Linhas de
Torres, a fim de evocar, respetivamente, os 250 anos do seu nascimento e os 200
da sua morte. Releva-se que o próprio Reino Unido se fez representar em
Portugal nestes eventos de homenagem a Francisco Ciera. A autarquia de Torres
Vedras dedicou-lhe em 2014 uma placa toponímica, revelando uma ação de justa
cidadania.
Outras evocações a Ciera filho e seu contributo no desenvolvimento
da telegrafia, já haviam sido feitas pela Comissão da História das
Transmissões; Liga dos Amigos do Arquivo Histórico Militar; e Fundação
Portuguesa das Comunicações.
(1) Regra geral a distância entre postos de telegrafia
visual anda à volta dos 18 km ou mais, como no troço de Almeirim a Montargil
atingindo neste caso um salto de 40 km. Deste modo os monóculos (também com a
designação de telescópios) alcançavam 30 a 40 vezes a vista “desarmada”.
(2) O telégrafo de Edelcrantz foi desenvolvido no âmbito
da defesa militar sueca em relação aos conflitos com a Rússia.
(3) Miguel António Ciera, cidadão do Piemonte, território
que faz parte da atual Itália. Especialista em delimitação de fronteiras,
esteve ao serviço do Reino de Portugal.
(4) Pedro Folque nasceu na Catalunha. Muito jovem veio
para Portugal, onde estudou e fez uma extensa carreira militar, chegando ao
posto de Tenente-Coronel e Comandante-Geral da Engenharia. Teve uma vida muito
longa de trabalho, apenas se aposentando depois dos 100 anos, tendo falecido
aos 104. Foi colaborador especial da família Ciera e deixou como sucessor o seu
filho Filipe de Sousa Folque, tendo este nascido em Portalegre, 1800. Fez
carreira brilhante na Arma de Engenharia, em topografia e cartografia. Foi uma
referência em trabalhos realizados posteriormente por Hermenegildo Capelo,
Roberto Ivens e Gago Coutinho.
(5) Arthur Wellesley duque de Wellington foi figura
proeminente do Exército Britânico. Teve um papel relevante na luta contra as
invasões francesas, em especial na Península Ibérica com destaque para as
Linhas de Torres, tendo embora, aproveitado os estudos prévios do terreno
executados por José Maria das Neves Costa (1774-1841) natural de Carnide –
Lisboa. Na posse dos estudos de Neves Costa, consta que o duque de Wellington
terá afastado o militar português de colaborações futuras, apagando assim a
autoria e visibilidade que seriam devidas não só ao próprio Neves Costa,
como à Academia de Marinha, à Arma de Infantaria e ao Arquivo Militar por onde
passara o distinto investigador do terreno, topógrafo e cartógrafo com relevo
para a Carta Militar da defesa de Lisboa. Esta
Carta foi oferecida por Neves Costa ao Marechal Beresford que, por sua vez, a
transmitiu ao 1º duque de Wellington, desenvolvendo com ela as Linhas de Torres.
-ANCIÃES, Alfredo Ramos - Dossier de
telegrafia ótica/visual in FPC Fundação Portuguesa das Comunicações: Património
Museológico de Telecomunicações, 1997-2006;
--------------Seminário de investigação e organização da telegrafia do Museu dos CTT. Lisboa: Edição pessoal - Seminário de Biblioteconomia e Arquivologia. Lisboa: UAL “Luís de Camões”, 1987/1988, 85 pp.
--------------Seminário de investigação e organização da telegrafia do Museu dos CTT. Lisboa: Edição pessoal - Seminário de Biblioteconomia e Arquivologia. Lisboa: UAL “Luís de Camões”, 1987/1988, 85 pp.
--------------Nova tabela de classificação do património museológico
de telecomunicações. Lisboa: FPC - Fundação Portuguesa das
Comunicações/Património Museológico de Telecomunicações, 1998
-BARROS, Guilhermino Augusto de – Relatório do Director Geral
dos Correios, Telegraphos, Pharoes e Semaphoros relativo ao anno de 1889
precedido pela continuação da Historia dos Correios até ao fim de 1888 e uma
memoria historica acerca da telegraphia visual, electrica, terrestre, maritima,
telephonica e semaphorica, desde o seu estabelecimento em Portugal. Lisboa:
Imprensa Nacional, 1891
-FIRMINO, Maria da Glória Pires; Engenheiros
fundadores/colaboradores do Grupo de Amigos do Museu dos CTT; JÚNIOR, E.A.P.
Miguel; GUIMARÃES, Maria de Lurdes P. C.; ANCIÃES, Alfredo
Ramos - Chave de classificação do Património Museológico de
Telecomunicações. Lisboa: Museu dos CTT, 1985
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LEAL, Rui Sá (colaboração) - Telegrafia visual na Guerra Peninsular 1807-1814.
Mafra: Câmara Municipal de Mafra Boletim Cultural 2008, pp. 67-141
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- História das telecomunicações. Da Direcção Geral dos Telégrafos do Reino à
Portugal Telecom. Lisboa: Portugal Telecom; Tinta da China, 2009
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http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p48.html
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-José Maria das Neves Costa e as Linhas de Torres / GERALDO, Coronel José Custódio Madaleno - http://www.revistamilitar.pt/artigo.php?art_id=530
-Miguel António Ciera (Michaelis Antonii Cierae) / REIS, Fernando;
Instituto Camões - http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p46.html
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-Telegraph (the) of Claude Chappe – an
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