16"Em
verdade, em verdade vos digo: o servo não está acima do seu senhor e o mensageiro não é maior que aquele que o
enviou. 17Se sabeis isto, e o puserdes em prática, sereis felizes” (Jo 13,
16-17) (sublinhado meu)
As
experiências radioelétricas já vinham dos finais do regime monárquico;
conhecidos que eram os trabalhos do almirante Gago Goutinho (1) precedidos e
continuados por outras figuras da TSF -
Telegrafia e Telefonia Sem Fios (2).
Quanto à
radiodifusão (programas públicos de fonia, via rádio, para auditório aberto) é
assinado em 1930 o decreto que cria a Direcção
dos Serviços Radioeléctricos dos CTT (3).
Em 1932 o
Ministro das Obras Públicas e Comunicações, eng.º Duarte Pacheco aprova experiências
rádioelétricas. Em Barcarena, concelho de
Oeiras são instalados os primeiros estúdios e o emissor público. Contudo esta primeira
estação estatal, cedo começa a ser desdobrada e deslocada para outros locais.
Com efeito, em 1934 vários serviços de Barcarena são transferidos para a Rua do
Quelhas - Lisboa, tendo nesta localidade feito uma longa história, até finais
do século XX, se considerarmos a permanência dos estúdios e do simpático Museu
da Rádio. Desde estes anos 30 a rádio pública/estatal foi designada por Emissora
Nacional de Radiodifusão Portuguesa. (4)
A
tecnologia adotada na Emissora Nacional era a de onda média, seguindo-se outras
transmissões em onda curta para a longa distância: ultramar e estrangeiro.
Só em 1935 após
quase cinco anos de preparação é que foi inaugurada com pompa e circunstância a
Emissora Nacional de Radiodifusão Portuguesa pelo Estado Novo, tendo participado
na cerimónia o Presidente da República General Carmona, o capitão Henrique
Galvão, o Ministro das Obras Públicas e Comunicações – eng.º Duarte Pacheco, o
técnico Manuel Rodrigues Júnior, entre outras personalidades.
A onda
curta foi a nova realidade que permitiu o programa Hora da Saudade. Com este programa “[…] estabelecíamos uma forte
ligação à nossa casa, à nossa terra. Durava pouco, mas sabia muito bem. O
procedimento mais usual era, quando os pescadores estavam a trabalhar, o
capitão ia de imediato ouvir as mensagens recebidas em directo a partir de
Portugal, retransmitindo-as de seguida pelo navio”. (Capitão
João Braz, entrevistado por Luís Manuel Martins (5).
Nos finais
dos anos 30 a tecnologia de onda curta em Barcarena beneficiou do aumento de
potência dos 2 para os 10 kw permitindo melhores captações de som e o aumento do
alcance da transmissão e da receção (6).
Formalmente
só em 1940 a Emissora Nacional saiu da esfera tutelar dos CTT – Correios
Telégrafos e Telefones, na altura integrados no Ministério das Obras Públicas e
Comunicações e hoje designados CTT – Correios de Portugal, S. A.
A mudança
fez-se através do Decreto-Lei 30752. Começou então a descentralização de
tecnologias e serviços com a criação de emissores: no Porto, Coimbra e Faro.
Cerca de
1944 em Castanheira do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira é instalado um
emissor de ondas médias com 50 kw de potência. O objetivo foi conseguido: a
difusão de programas radiofónicos da parte da manhã. Em Barcarena ficou o emissor
de ondas médias para transmitir os programas noturnos, encerrando contudo as
emissões antes da meia-noite.
Nos anos 40
foram célebres as temporadas de ópera, transmitidas a partir do Teatro de S.
Carlos. A emissão de música tinha origem na atuação ao vivo com a Orquestra
Sinfónica da Emissora Nacional regida pelo maestro Pedro de Freitas Branco que animava
sobremaneira o país numa altura em que não havia televisão em Portugal. Em 1936
começam as gravações em discos, tentando assim disponibilizar melodias a
qualquer hora e a custos reduzidos. As novas tecnologias de então contribuem
para fazer chegar aos públicos um serviço com tendência a universal.
Em 1952 o Instituto Superior Técnico recebe estúdios de gravação e emissão
de programas no âmbito das conferências da NATO, realizadas em Lisboa. Chegados
a 1954
é a vez do presidente da República General Craveiro Lopes inaugurar o Centro
Emissor de ondas curtas e médias de S. Gabriel (7) de Pegões. Esta estação emitia
para longas distâncias em ondas curtas através de dois emissores, servindo o
ultramar português e o sudoeste asiático.
Em meados dos anos cinquenta introduz-se
nova tecnologia permitindo a emissão e receção da Frequência Modulada (FM). Equipamentos
de 100 kw em Lisboa e na Lousã são postos ao serviço da Emissora Nacional (8).
Quanto à rádio pública internacional, esta ganha
visibilidade em 1957 com os estúdios no Bairro Alto, Rua de S. Marçal, inaugurados
na altura da visita da raínha Isabel II.
A estereofonia em Frequência Modelada (FM) é aproveitada no tempo da primavera marcelista para a emissão de música gravada em onda média
das 9 às 11 da noite e das 11 à uma e tal da manhã.
A difusão de informação e propaganda tenta influenciar a Europa nas línguas:
francesa, inglesa e alemã. A Voz do
Ocidente da Emissora Nacional insistia em ganhar adeptos em relação à
política com as províncias ultramarinas, destacando a missão da defesa militar portuguesa.
Esta Voz do Ocidente combatia as
emissões clandestinas comandadas por Moscovo, aproveitando o ambiente da guerra
fria.
Ficou na memória de muitos contemporâneos o slogan “Aqui, Voz do
Ocidente, Rádio Moscovo não fala verdade”. As emissões do exterior eram, por
sinal boicotadas, tanto quanto possível, através dos Serviços Radioeléctricos dos CTT, organismo estatal até 1968 e empresa
pública a partir de 1969. A instalação de Barcarena onde funcionara a primitiva
Emissora Nacional passa a ter também a função de provocar artificialmente interferências
ao sinal das rádios políticas estrangeiras, tais como a Rádio Moscovo, Voz da Liberdade (Rádio Argel) e
Rádio Portugal Livre (Bucareste –
Roménia).
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(1) São conhecidos as
investigações e a apresentação duma patente por parte de Gago Coutinho.
“Preocupando-se de igual modo com os problemas das comunicações entre o mar e a
terra, escreveu sobre telegrafia sem fio, advogando que se montassem estações
na costa de Portugal, de modo a salvaguardar a segurança das embarcações”. Em
1900 “Coutinho registou duas patentes de invenção em telegrafia eléctrica, uma
das quais para um sistema de radiocondutor sem limalha”. (cf. fontes infra:
Coutinho, Gago)
(2) O ano de 1925
marcou outra etapa de desenvolvimento das telecomunicações em Portugal com a
criação da Companhia Portuguesa Rádio Marconi, chegando a ser uma das maiores
redes de radiocomunicações a nível mundial, operando de Portugal a Timor.
(3) Os Serviços Radioeléctricos dos CTT são o
embrião do ICP – Instituto das Comunicações de Portugal, agora com a designação
de ANACOM – Autoridade Nacional das Comunicações.
(4) Com as vicissitudes da História,
o nome acabou por ser alterado; atualmente a estação e museu estão fundidos na
RTP – Rádio e Televisão de Portugal com estúdios e emissores na Avenida
Marechal Gomes da Gosta, 37. A RTP tem ainda outras sedes, emissores e estúdios
no Porto, Madeira e Açores.
(5)
O programa “Hora da
Saudade”, foi iniciado em 1937 pela Emissora Nacional de Radiodifusão
Portuguesa. Apresentado por Curado Ribeiro, dirigia-se aos emigrantes no
continente americano e aos tripulantes e pescadores dos navios bacalhoeiros na
Terra Nova. (Cf. Blogue Aqui e Agora – Hora da Saudade in http://oaquieagora.blogspot.pt/2007/07/hora-da-saudade.html, acedido em 16.5.2014)
(6) Cf. RTP 75 Anos Rádio Pública Portuguesa in
http://www.rtp.pt/wportal/sites/radio/75anos/historia.php
(7) Note-se que o
Arcanjo S. Gabriel é o padroeiro das telecomunicações.
(8) Atualmente a rádio em FM é a mais utilizada em Portugal, emitindo
em cerca de 300 estações neste tipo de frequências.
Fontes:
-ANCIÃES,
Alfredo Ramos – Da História das
Telecomunicações na I República in Comunicar
na República 100 Anos de Inovação e Tecnologia. FPC - Fundação Portuguesa das
Comunicações. Lisboa: FPC, 2010
-
Id. Da História das Telecomunicações no
Estado Novo (1926-1974)
-
Id. Da História das Telecomunicações na
Democracia (1974-2010)
-Id.
“Património museológico de telecomunicações: Criação e gestão em
contexto”. Lisboa: FPC Códice Ano XI Série II, 2008, págs 52-67
-COUTINHO, Gago - Biografia de Carlos Viegas Gago Coutinho (1869-1958) in http://www.ihc.fcsh.unl.pt/pt/recursos/biografias/item/4394-coutinho-carlos-viegas-gago-1869-1958, acedido em
16.5.2014
-Id. Obras
de Gago Coutinho in http://www.citi.pt/cultura/historia/personalidades/gago_coutinho/obras_de_gago_coutinho.html, acedido em
16.5.2014
-FARIA, Miguel Ferreira de -
Marconi 75 anos de comunicações internacionais. Lisboa: Companhia Portuguesa
Rádio Marconi, SA ; Printer Portuguesa, Ldª, 2000
-FONSECA, Moura da – As Comunicações navais
e a TSF na Armada: sibsídios para a sua história (1900-1985). Lisboa: Edições
Culturais da Marinha, 1988
-MARCONI, Guglielmo – Marconi em Portugal: Ciência e engenharia na génese das
radiocomunicações in http://www.ordemengenheiros.pt/pt/centro-de-informacao/dossiers/historias-da-engenharia/marconi-em-portugal-ciencia-e-engenharia-na-genese-das-radiocomunicacoes/, acedido em
16.5.2014
-MATOS, Artur Teodoro de – Transportes e
Comunicações em Portugal, Açores e Madeira: 1750-1850. Ponta Delgada:
Universidade dos Açores, 1980
-ROLO, Maria Fernanda – História das
telecomunicações em Portugal: da Direcção Geral dos Telégrafos do Reino à
Portugal Telecom. Lisboa: Fundação Portugal Telecom, 2009
-RTP 75
Anos Rádio Pública Portuguesa in http://www.rtp.pt/wportal/sites/radio/75anos/historia.php; acedido em
16.5.2014
-UIT - Union Internationale des
Télécomunications. Du Sémaphore au Satellite.
Geneve: UIT, 1965
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