sábado, 4 de maio de 2019

CRIAÇÃO DO MUSEU NACIONAL DA RESISTÊNCIA E DA LIBERDADE

Notas sobre o processo de criação do Museu Nacional da Resistência e Liberdade.

O edifício do Museu assenta na Praça-Forte de Peniche. Antes do século XVII já havia estruturas destinadas à vigia da costa, à semelhança do forte da Berlenga Grande.
 
       No Cabo Carvoeiro foi instalado o farol, sob a administração do Marquês de Pombal. O alvará de autorização e funcionamento de faróis data de fevereiro de 1758, sendo que o equipamento de alumiamento e sinalização só iniciou a atividade em 1790.
       O Farol da Berlenga situa-se a cerca de 10 quilómetros do Cabo Carvoeiro e a cerca de 13 do Forte de Peniche. Iniciou o funcionamento em 1840 com a mesma missão e função de outros faróis: Servir de segurança, referência e informação às embarcações e populações locais. Contudo o farol da Berlenga é um dos mais isolados no panorama nacional.
 
       
 
Os faroleiros necessitam de assistência: alimentação, saúde e comunicação. Para obviar a estas necessidades foi instalado, em Peniche e na Berlenga, um dos primeiros sistemas de telegrafia óptica inventado em Portugal. O modelo escolhido foi o de Francisco Siera, nascido em Lisboa e nomeado primeiro Diretor dos Telégrafos portugueses. Para o efeito de troca de mensagens foi colocado este telégrafo para a comunicação entre a ilha e a Península de Peniche. 
Não temos documentação que ateste o sítio exato da instalação; mas tudo leva a crer que estaria junto ao farol do Cabo Carvoeiro ou, talvez, dentro da Praça-Forte de Peniche, quiçá junto do núcleo edificado, chamado “Redondo”, por constituir um bom ponto estratégico de visibilidade e onde se situava o comando da guarnição da Praça-Forte.

 
A Berlenga Grande começou a ter ocupação com a instalação dos monges da Ordem de São Jerónimo, em 1515, ao tempo do reinado de D. Manuel I. O objetivo era auxiliar a navegação, sobretudo os náufragos. O forte de São João Batista, também na Berlenga, já é do tempo de D. João IV, depois da Restauração de 1640.
 
Fortes, faróis e telégrafos são equipamentos indispensáveis para a defesa da costa, das populações e ajuda à navegação marítima, quer pelas atividades de pesca, quer pelos transportes e economias. Daí que estes equipamentos façam parte da evolução urbanística, da toponímia e da história.
 
Os equipamentos também acompanham as necessidades das populações e administração do território. É assim que vemos a transferência de utilização da Praça-Forte: De baluarte da defesa, comunicações e pontualmente presídio, passou à função de prisão política no tempo do Estado Novo. A Revolução do 25 de Abril pôs subitamente fim a esta indesejada função, manifestada pelas populações.
 
A 27 de Abril de 1974 a Praça-Forte tem o seu primeiro dia de grande afluência e de festa, ao abrirem-se as portas. Finda a função de prisão, o equipamento não podia ficar desaproveitado. Recebe gente retornada das eis Províncias Ultramarinas. A função de memória vai tomando corpo e consciência, entre os amantes da Liberdade.
Entretanto, no Forte vai sendo instalado o Museu Municipal.
 
A Fortaleza e edificações são enormes e necessitam de assistência regular, enquanto os recursos da região e do país são escassos. É, então, pensado como potencial equipamento hoteleiro. Não faltariam interessados para o adquirir e ocupar. Acontece que as memórias e as reivindicações de baluarte monumental despertaram mais atenções. 


Frontão sobre uma janela no interior da capela da Praça-Forte, dedicada a Santa Bárbara. O estilo parece-nos ser de Mateus Vicente de Oliveira.

Os eis prisioneiros, as sua famílias e quem está sensível para as questões da Liberdade foram mais afirmativos e exigentes. Ganhou a reivindicação para ali ser instalado um «Museu da Resistência e da Liberdade” que obtém o estatuto inédito de classificação Nacional, mesmo antes de abrir.
Na realidade é a vitória do projeto que faz jus à Praça-Forte como Monumento Nacional, com o reconhecimento dos valores que Abril abriu. 
 
 
Aqui vai ser instalado o Museu em referência, já no próximo ano de 2020, sendo a atual exposição o prelúdio de inolvidável e imperdível interesse.
O “Atelier AR4, Arquitectura Ldª.” é o vencedor do concurso.
Diga-se de passagem de que nós vemos como adequado o projeto que leva à função de Museu Nacional. Será mais rentável do que propiamente aproveitado como unidade hoteleira.

Se bem que a venda e exploração proporcionaria dividendos e até poderia incluir um pequeno núcleo memorial.
Nada compensará o atual projeto, quer em termos de consciência das liberdades, quer mesmo de interesse para preservação de memórias e a motivação das pessoas que também trazem vantagens na vertente do turismo. Saliente-se que uns atrativos chamam outros. A polivalência cultural é bem-vinda.
 
Quanto a unidades hoteleiras elas já existem em Peniche e poderão ser desenvolvidas nesta cidade e nas imediações.
 
Estão de parabéns os que lutaram e trabalharam para este Museu Nacional que, ao mesmo tempo, também integra memórias e peças de interesse regional.
Por toda esta envolvência, a Praça-Forte de Peniche, as memórias locais e o Museu Nacional da Resistência e da Liberdade constituem um local e um bem cultural a não perder.

Créditos imagens: 001 gentileza sítio « historiadastransmissoes » , 002 gentileza sítio Wikipedia / WikiMedia Foundation et al , 003 a 015 e 017 a 018 Arquivo pessoal AA; 016 Câmara Municipal de Peniche

Palavras-chave:

Berlenga Grande, Museu Nacional da Resistência e Liberdade, Peniche, Praça-Forte, Telégrafo ótico

Fontes:

-MediaWiki et al - “Farol do Cabo Carvoeiro” https://pt.wikipedia.org/wiki/Farol_do_Cabo_Carvoeiro

-ASSOCIAÇÃO de Turismo Militar Português – “Farol do Cabo da Roca” https://www.turismomilitar.pt/index.php?lang=pt&s=pois&id=245&title=Farol_do_Cabo_Carvoeiro  

-PORTUGAL – Direção de Faróis da Marinha – “Farol da Berlenga” https://www.amn.pt/DF/Paginas/FaroldaBerlenga.aspx

-PORTUGAL –Direção-Geral de Património Cultural et alPraça-forte de Peniche” - https://pt.wikipedia.org/wiki/Praça-forte_de_Peniche 

-AFFONSO, Aniceto; LIMA, Pedroso de et al - “Telégrafo de Peniche”  https://historiadastransmissoes.wordpress.com/2011/11/15/telegrafo-de-peniche/ 

-ENGENHEIRO, Fernando - “Subsídio para a História do farol da Berlenga”  http://cabo-carvoeiro-historico.blogspot.com/2009/11/subsidios-para-historia-do-farol-da.html

PORTUGAL, Direcção-Geral do património Cultural et al - “Praça Forte de Peniche” https://pt.wikipedia.org/wiki/Praça-forte_de_Peniche

-ROCHA. Vitor – “História do Forte de Peniche” http://fortedepeniche.blogspot.com/2010/05/historia-do-forte-de-peniche.html

-SARAIVA, José Hermano; RTP et al - “A Bruma da Memória – Peniche” https://www.youtube.com/watch?v=mbONETgICxA

PORTUGAL, Património Cultural Português et al “Depoimentos de antigos presos políticos da Fortaleza-prisão de Peniche - https://www.youtube.com/watch?v=u8jeqqkVm3E&feature=youtu.be

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