sábado, 17 de março de 2018

PORQUE UMA GEOMÁTRIA E UM FRATRIMÓNIO PRECISAM-SE - É TEMPO DE LEMBRAR NATÁLIA

        Natália Correia é açoriana de gema, onde nasceu no ano de 1923 na Fajã de Baixo, ilha de São Miguel. Faleceu em Lisboa em 1993, aos 69 anos de idade, após 58 anos de vida na capital. Foi sepultada no cemitério dos Prazeres e recentemente trasladada, já na presente década, para a sua Terra natal. Considerada  uma das mais belas figuras do seu tempo «a mais linda mulher de Lisboa», segundo José-Augusto França; «beleza sem costura» (Ary dos Santos), ou a mulher tipo sacerdotisa, detentora de saberes e mistérios, à semelhança de «Hierofântide» deusa grega, segundo Luiz Pacheco. 
No ano que se comemoram os 25 anos de memórias de Natália, após a sua morte, é tempo de lembrar a Poetisa sobre costumes patriarcais. Tudo parece indicar que Natália foi uma das primeiras pessoas a refletir sobre o conceito de Mátria, em oposição aos conceitos de Pátria e Patriarcal que considerava de altivez masculina/dominadora; conceitos estes, baseados nas sociedades em que a mulher é sujeita/objecto; que está ao serviço e ao bel prazer masculino. Por este motivo conta-nos Mário Cesariny  em entrevista publicada no jornal Público por Carlos da Câmara Leme (16.03.2003):
 «[...] ia caindo para o lado [...] de beleza que ela apresentava. Era quase extra-humana, era muito mais linda que a mais bela estátua feminina do Miguel Ângelo. Era uma coisa impressionante. Mas era também uma mulher de um desdém muito grande. Cheguei a julgá-la assexuada ou frígida mas parece que não [...]»
O próprio conceito de Mátria terá inspirado o de Frátria que, em nosso entender, responde às necessidades de quem mais precisa no sentido de aproximação a uma desejada igualdade. Os conceitos de mátria e frátria que nós adotamos em museologia não serão totalmente coincidentes com os de Natália que veria nos mesmos uma forma sublime de libertação da mulher, quiçá, mesmo, uma certa supremacia de intuição e inteligência. Contudo, pensamos que há coincidências: precisa-se de toda uma cultura e economia social, onde pessoas irmanadas por iguais ou semelhantes causas, praticam acções e exercem funções em prol do bem comum.
Natália rompe conceitos patriarcais, sobretudo a partir de 1986, onde entra numa série televisiva a que dá o nome de “Mátria" e "Este Lugar”. No Parlamento Natália é contundente perante visões de puro machismo e conservantismo.
 «O amor à Pátria, o patriotismo, é um amor sem recompensa porque sem retorno, traduzido na vontade heroica de morrer pelo Pai territorial. A crise deste tipo de amor masoquista foi despoletada, no século XX, como resposta às atrocidades insanas dos totalitarismos nacionalistas [...]». Também o poeta e ensaísta Unamuno escreve em 1968 sobre a mátria fazendo analogia com a mãe «[...] porque a Mãe, longe de ser o estranho ou o Outro, é o útero a que regressa toda a vontade pródiga  do filho [...]. Contudo já Chateaubriand se reportou em 1849 no "Livro 31 de Memoires [...]", quando se reporta «à sua terra de origem» com o termo "matrie".
No entanto já o lusófono padre António Vieira usara o termo mátria num sermão na sua cidade da Bahia, em 1639:
 «[...] o Céu para que fomos criados é o lugar do pai que nos dá o ser; e se a pátria se derivara da terra, que é a mãe que nos cria, haveria de se chamar Mátria [...]» (VIEIRA, 1690, p 278, cit. por CARLOS, Luís Adriano) .Veja fonte infra.    
Natália reportar-se-á a uma posição “matrista" em vez de feminista. A este preceito também o lusófono Caetano Veloso deu o seu contributo «[…]  eu não tenho pátria, tenho mátria / E quero frátria […]. (Caetano Veloso“Língua” .
Em síntese, estamos a projectar e caracterizar uma museologia de fratrimónios e matrizmónios. Em maioria de razão porque o "património" é algo confuso, entre o cultural, o financeiro, o público, o privado e o patriarcal (de patriarca) que se considera senhor e porque grosso modo o património, não abarca as realidades: material/imaterial/social do “aqui e agora”, isto é do(s) momento(s) presente(s), no mundo contemporâneo.
O conceito do “aqui e agora” também foi abordado pelo museólogo Mário Chagas, 2016-2018, bem como no seio da igreja/instituição católica que tem vindo a ter alguma expressão nesta matéria como acima verificámos, desde o século XVII com Vieira. (cf. GONÇALVES, P. Vitor - www.facebook.com/vozdaverdade e jornal semanário em papel «Voz da Verdade», 11.03.2018. Porém, em termos museológicos estamos numa fase preliminar. Chagas começara a referir-se ao fratrimónio na perspectiva material numa óptica que se aproxima do materialismo reivindicativo. Estamos a desenvolver  o conceito com base nas associações sociais, sem fins lucrativos, quer religiosas, quer do mundo dito laico, bem assim como o conceito de matrizmónio ou geomatrizmónio onde incluiremos os bens sociais, culturais e económicos em que se reveem as comunidades e onde se preservam as várias  formas de vida, até ao vegetal e mineral.
V. ainda:
--ANCIÃES, Alfredo Ramos –
88.Museologia em Acção (Tradicional Nova e Social) ---
89.D `O Nome da Rosa` Aos Padrões de Memórias: Conservadas e Acesas ---
90.Museus Museion Musas e Epopeias em Um Contexto ---
91.Portugal Social Museal ---
94.Arte e Novas Musealidades, http://cumpriraterra.blogspot.pt/ ---
150 Portugal de Abril responsabilidades mil - http://cumpriraterra.blogspot.pt/2017/04/150-portugal-de-abril-comunicacoes.html --
151 Abril Responsabilidades mil - http://cumpriraterra.blogspot.pt/2017/04/151-capicua-da-sorte-em-semana-de.html ---
169. Pedrógão et al - http://cumpriraterra.blogspot.pt/2017/10/pedrogao-et-al-e-vereia-senhor-e-vereia.html , consultados em 17.03.2018 ;
--ANTUNES, Manuel de Azevedo –
Pelos Caminhos da Museologia em Portugal“ Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, Número Especial, p. 142-156, out. 2015, Também disponível em https://www.academia.edu/16918796/Pelos_Caminhos_da_Museologia_em_Portugal ; http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur, consultado em 17.03.2018
--CARLOS, Luís Adriano - https://www.researchgate.net/publication/291599972_A_MATRIA_E_O_MAL_EM_NATALIA_CORREIA 
--Wiki-- et al - Natália Correia https://pt.wikipedia.org/wiki/Natália_Correia , consultado em 18.03.2018

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