Jagadish
Chandra Bose (2) nasceu e faleceu na Índia (1858 -1937)
Na
época de Bose, a telegrafia elétrica (transmissão da escrita à distância
através de fios condutores) já havia sido inventada e implementada. Idem quanto
à telefonia tradicional. Contudo, a radiotelegrafia e a radiotelefonia, só nos
finais do século XIX/ início do XXº dão sinais de vida. Neste processo, Bose
exerceu meritórias ações, as quais nunca será demais destacar.
As
investigações de Bose e do físico Édouard Branly (Amiens, 1844 – 1940, Paris)
foram quase simultâneas e, provavelmente, independentes uma da outra. Branly
foi o primeiro, do ponto de vista do registo de patente com o detetor (dito coesor
de Branly), enquanto Bose inventou peça semelhante mas conformou-se
com a divulgação no sistema de ensino e no emprego da mesma peça em
explosões de pedreiras e também nos sinais em campainhas por via radioelétrica.
Bose estava mais interessado na segurança de vidas humanas e na divulgação do
conhecimento, através do ensino que ministrava, do que em realizar proventos
pela venda de serviços e equipamentos.
A
sua genialidade como físico, biofísico, botânico, fisiologista e arqueólogo,
foi direcionada para a relação humanista. Altruísta, parece ter descurado o
desenvolvimento na vertente das comunicações, deixando o caminho aberto para
outros investigadores, tal como veio a acontecer, com a evolução das
telecomunicações inclusivamente na Era digital. Bose iniciou a investigação que
viria a dar frutos com os semicondutores, base das comunicações modernas/atuais
à distância.
Mais
interessado pelos fenómenos da vida e desta com o Absoluto (3), Bose privilegia
o estudo da relação homem/meio ambiente. Para Bose, a natureza vegetal não é
desprovida de sensações de bem-estar, mal-estar; não é indiferente a estímulos.
Uma planta pode sentir a presença de bons e maus fluídos e reage a sensações e
comunicações.
Tudo
parece indicar, que o reino vegetal comunica com o meio, libertando odores e
desenvolvendo-se ou retraindo-se no seu crescimento e morte; na frutificação
abundante e generosa, ou no definhamento e esterilidade.
Para
comprovar os atributos de sensação/reação, felicidade/bem-estar que a sua
intuição e espírito lhe sugeriam, Bose inventa um equipamento a que chama crescógrafo
(4) permitindo a ampliação, das manifestações reativas/comunicativas do reino
vegetal, até cerca de 10.000 vezes.
Dada
a sua personalidade de polígrafo, Bose dedica-se mais ao ensino dos princípios
e fundamentos do que às questões formais e autorais. Filho de um magistrado,
estuda em Calcutá, a partir dos 9 anos, onde conclui uma licenciatura. Em 1880
já se encontra em Londres onde segue Medicina, que não conclui devido a ter
desenvolvido uma doença de malária. Muda de curso e licencia-se em Física.
Entre vários professores encontra Francis Darwin, filho do célebre Charles
Darwin.
Regressa
a Calcutá onde trabalha cerca de 30 anos. Leciona e investiga no Presidency
College e é nas duas últimas décadas do século XIX que realiza várias
investigações, entre elas: sobre ondas eletromagnéticas, precedendo Marconi.
Nestes
anos consegue fazer explodir uma carga à distância, através do espaço
radioelétrico, isto é, sem o uso de fios e faz tocar uma campainha, também sem
o recurso de traçados contínuos. Estavam dados os passos essenciais para as
radiocomunicações. Em 1896 o Daily Chronicle relata a experiência da sua
comunicação à distância, sem fios.
Quase
pela mesma altura o russo Alexander Popov, também realiza experiências no
sentido de comunicar por via radioelétrica. Mas Popov escreve em 1895 que
mantinha a esperança de comunicar, sem fios; logo verifica-se que, neste ano de
1895, ainda não tinha conseguido o seu desiderato. Quanto a Marconi, também só
em 1897 consegue resultados aceitáveis e encorajadores.
Bose
não teve intenção em manter em segredo a sua investigação. Não o movia o
desígnio de criação de empresas e negócios, apenas a divulgação científica
entre a população interessada. Mas não faltava quem por interesses pessoais,
quiçá egoístas, quisesse apresentar inovações. Ele próprio desabafa com um amigo
poeta, e igualmente polígrafo de Calcutá - Rabindranath Tagore, em 1901, sobre
o espírito de ganância pelo dinheiro que encontra em obcecados concorrentes.
Bose
investiga e trabalha sobre as ondas curtas que estão na base da revolução das
comunicações a longas distâncias. Inventa um protótipo de díodo (5)
semicondutor de cristais, funcionando como peça transmissora de informação
e descobre as micro ondas.
A
este respeito estava tão avançado em relação ao seu tempo que o Prémio Nobel de
Física de 1977 – Nevill Mott confirma que Bose estava “60 anos avançado em
relação à sua época”(6).
Notas:
(1)Proveniência
e gentileza da imagem: Royal Institution Jagadish Chandra Bose e, EMERSON, D. T
in https://www.cv.nrao.edu/~demerson/bose/bose.html;
es.wikipedia
(2)É
interessante o termo bose por estar associado ao “pequeno e
discreto” (cf. http://mundodasmarcas.blogspot.pt/2006/05/bose-better-sound-through-research.html,
https://pt.wikipedia.org/wiki/Condensado_de_Bose-Einstein).
O bosão, por sua vez, ganhou o significado de “a partícula mais pequena de
Deus”. O nome Bose parece ter sido inspirado aos seus
progenitores. Porém, Bose, originário de um território colonizado
tornou-se grande, não só na India, como na Metrópole, G. B., e no Mundo,
estando hoje as suas obras, e as que dele falam, traduzidas em cerca de 20
línguas.
(3)A
expressão Absoluto é aqui empregu em vez de Deus, Javé e Alá, cujas
referências estão ainda ligadas a religiões e culturas diferentes, o mais das
vezes em competição ou em guerra declarada.
(4)Crescógrafo
- substantivo masculino do latim cresco, crescer + grafo,
registo, isto é, aparelho amplificador e registador do crescimento das plantas.
(cf. Dicio – Dicionário Online português). Diz-nos o guru indiano Paramahansa
Yogananda, na sua obra onde se refere a Bose, que este precursor “recebeu o
título de Cavaleiro pela Administração Britânica, em 1917, pela invenção do crescógrafo”,
entre outros instrumentos. (cf. YOGANANDA: 2007).
(5)Díodos
(do grego di e odos = dois caminhos). Trata-se de pequenas peças
trabalhando com cristais. Estas pequenas unidades são, hoje em dia, mais
conhecidas como semicondutores. Assentam na capacidade variável de conduzir a
corrente elétrica. Os cristais foram primeiramente descobertos em 1873-1874 por
Frederick Guthrie e Karl Braun. Depois utilizados por Thomas Edison (1880).
Pouco tempo após, são aplicados por Édouard Branly e Jagadish Bose, no então
chamado coesor de transmissão radioelétrica. A progressão tecnológica
continua e são inventadas as válvulas termoiónicas, constituídas essencialmente
por um cátodo, um filamento e um ânodo. O aquecimento do
filamento faz trabalhar iões e eletrões, bem assim como o
encaminhamento de impulsos informativos. Novas evoluções e as válvulas dão
lugar aos transístores e atualmente aos circuitos integrados. Porém, a origem
da transmissão radioelétrica, baseia-se nos coesores/díodos (duas funções).
Também não será por acaso que os sistemas atuais de comunicações se chamam
digitais por se basearem na transmissão de zeros e uns. Hoje,
como no século XIX, as comunicações são baseadas na dualidade, tal como uma
moeda possui duas faces. Para se comunicar são necessárias no mínimo duas
pessoas ou uma pessoa e outro ser, seja animal, vegetal e talvez também se
possa vir a comunicar com o reino mineral e o espiritual. Seguindo o precursor
Bose, parece que a comunicação entre seres de espécies diferentes já está ao
alcance da Humanidade mas é como diz uma citação trazida pela cara amiga
Lucinda: a comunicação é como “A felicidade [que] bate na porta mas não gira
a maçaneta. Quem decide se quer que ela entre ou não, é você!”. (Cf. http://comunidade.sol.pt/blogs/lucinda/archive/2015/07/06/OS-GREGOS-E-A-SUA-SEDE-DE-UMA-JUSTA-DEMOCRACIA_2E00_.aspx )
Tags: BOSE,Jagadish Chandra,
BRANLY,Edouard, Crescógrafo, Díodo-semicondutor, Radiocomunicações,
Radiotelefonia, Radiotelegrafia, Telecomunicações, TSF, MARCONI,Guglielmo,
POPOV,Alexander, YOGANANDA,Paramahansa
Fontes
bibliográficas:
-COPERÍAS,
Enrique M. – O Livro das origens: De onde vem tudo o que nos rodeia, do
Universo e da vida aos objetos do quotidiano. Paço de Arcos: Abril
/Controljornal Edipress, Ldª, 2013
Documentos
policopiados
-ANCIÃES,
Alfredo Ramos – Ensaio de Organização da Telegrafia Eléctrica no Museu dos
CTT. Lisboa: Museu dos CTT; UAL, 1988- 1989.- Policopiado
-ANCIÃES, Alfredo Ramos – Uma
(R)evolução nas Telecomunicações. Lisboa: FPC – Fundação Portuguesa das
Comunicações, 2005. – Doc. policopiado de apresentação da Exposição “150 Anos
da Telegrafia Elétrica em Portugal”. In Património Museológico Postal e
Telecomunicações
Documentos em
linha, acedidos em 7.7.2015
-BOSE, Jagadish
Chandra - Biografia - pioneirismo na pesquisa/deteção de ondas curtas in http://ethw.org/Jagadish_Chandra_Bose
-BOSE - Crescógrafo in
https://es.wikipedia.org/wiki/Cresc%C3%B3grafo
-BOSE - Físico e
Fisiologista in http://es.wikipedia.org/wiki/Jagdish_Chandra_Bose
-BOSE - Investigações
sobre o sistema nervoso das plantas e alguns equipamentos in https://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=search&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=https://en.wikipedia.org/wiki/Jagadish_Chandra_Bose&usg=ALkJrhiqEBhZbJvOpYdWsnVYcUH0EcP_3A
-BOSE;
Demerson - Detetor ou coesor radioelétrico in https://www.cv.nrao.edu/~demerson/b~ose/bose.html
-CHARDIN –
Investigações sobre a energética do pensamento e o respito pela Natureza
in http://pt.wikipedia.org/wiki/Teilhard_de_Chardin#Obras_de_Teilhard_de_Chardin
-CHT Comissão das
História das Transmissões - BRANLY, Édouard e o coesor detetor de ondas
radioelétricas in https://historiadastransmissoes.wordpress.com/tag/coesor-de-branly/
; https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89douard_Branly;
https://en.wikipedia.org/wiki/%C3%89douard_Branly
;
-Diodo semicondutor de
cristais in https://pt.wikipedia.org/wiki/Diodo_semicondutor
-EMERSON, D. T. –
Investigações pioneiras de J. C. Bose: 100 anos de ondas milimétricas e relação
com as investigações de Bose in https://www.cv.nrao.edu/~demerson/bose/bose.html
-FIDALGO, Anabela
(profª) - Apontamentos aulas de Literatura. Massamá e Monte Abraão: USMMA,
2014/2015
-FRANCISCO, Papa –
Nova Encíclica “Laudato si, sobre o cuidado da Terra” in http://ionline.pt/397268?source=social
-JANEIRA, Ana Luisa
– Teilhard de Chardin: a energética como visão de mundo; A energia máxima
será sempre o amor in https://teilhardianos.wordpress.com/2012/05/25/teilhard-de-chardin-a-energetica-como-visao-de-mundo/
-PEREIRA, Martha
Camargo Vasconcelos - Efeito Branly (Branly's coherer). Campinas: Universidade
Estadual de Campinas - Instituto de Física Gleb Wataghin, s. d. in http://www.ifi.unicamp.br/~lunazzi/F530_F590_F690_F809_F895/F809/F809_sem2_2006/MarthaC_Tamashiro_RF1.pdf
-KAMERLINGH-ONNES,
Heike – História do forno de micro-ondas in http://microwavecooking.com/pt/Microwave_Oven_History_Part3.htm
-UNICAMP; BRUM -
História dos semicondutores in http://sites.ifi.unicamp.br/brum/files/2014/01/FI_JAB_1s2012_P1_Ch2_Historia.pdf
-YOGANANDA,
Paramahansa ; BOSE, Jagadish in https://pt.wikipedia.org/wiki/Autobiografia_de_um_Iogue
-YOGANANDA, Paramahnsa – Autobiografia de um
Iogue [e a relação com Bose]. [Lisboa?]: Dinalivro, 2007. À venda na FNAC.
O original foi traduzido do inglês em 18 línguas, incluindo o português.
A avaliar pelos atributos de BOSE, que não se punha em bicos de pés e não entrava em guerras de concorrências para ser o maior, ou o primeiro, embora o fosse em muitos aspetos.
ResponderEliminarAlfredo Anciaes, é sempre bom te ler, porque há a certeza ter à mão, uma boa enciclopédia de comunicações, é perito em teoria.
ResponderEliminarPor experiência própria, a imaginação (?) leva-me, mesmo a crer que a alegria de viver se transmite ao reino vegetal, como Bose preconizou nos seus estudos,
Abraços
Caro Daniel, são sempre reconfortante as tuas visitas e os simpáticos comentários. obg. Sorte e felicidades.
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