quinta-feira, 21 de novembro de 2019

ENTRE FRATRIMÓNIOS - DA CONSOLATA A MOÇAMBIQUE - PLURAL E LUSÓFONO

      

Palavras-chave: África XIX – XXI; Consolata; Eixo Verde e Azul – Ribeiras: Barcarena, Jardas, Cooperação, Moçambique, Lusofonias

Nos bens participam os irmãos da Consolata e a população envolvente através da organização em hortas comunitárias, com portas abertas, embora privadas, festas e colocação de produtos de fabrico caseiro, como se de uma cooperativa informal se tratasse;

Nos bens naturais e de valor acrescentado, disponibilizam-se as nascentes, rede de água, reservatórios, margens da Ribeira, terrenos, vegetação, criação de aves, animais …
Nos bens imateriais disponibiliza-se um clima atrativo, relações entre irmãos e população livremente envolvida. Interessados da população ou visitantes de outras paragens vêm sendo recebidos por guias vocacionados com conhecimentos nas área das ciências sociais, história, museologia, biologia e agricultura.
Através de uma visita à Consolata – podemos expandir memórias, viajar, relacionar;
Apreciar os bens produzidos e disponíveis (físicos ou imateriais), adquirir bens de consumo (mel, licores, informação, artesanato, …),  
Beneficiar de uma apresentação de temas relacionados com: 
Economia do local e organização social dos irmãos e destes com a população; 
Arte: embora com poucas peças, estas são relevantes. 
Conhecer a vida dos residentes e dos proprietários de outrora e da atualidade. (Cf. Quinta do Castelo, Actividades Socioculturais in https://www.facebook.com/groups/1765418447076872/ )
Do exemplo relacionado com a história do local, podemos fazer uma viagem a Terras Africanas da Lusofonia porque a Musa, quiçá a Senhora do Consolo (ou da Consolata), aqui na Quinta do Castelo e lá em Moçambique, nos inspiram. 

Figura histórica: Mouzinho de Albuquerque
 
Encontrámos a referência, de que estas terras, hoje da Consolata: (cf. http://www.consolata.pt/onde-estamos/) foram pertença das famílias “Albuquerque”. (cf. http://www.consolata.pt/1183 ; http://www.consolata.pt/centros-missionarios/)
Referem algumas fontes (cf. https://rouxinoldepomares.blogs.sapo.pt/tag/agualva) que aqui permaneceu prisioneiro, ainda que pontualmente, o célebre Gungunhana, ex Régulo ou Imperador da região de Gaza, inserida no espaço do que viria a ser o Estado / Nação de Moçambique.
Sendo, ao que consta, a família de Mouzinho proprietária nestas terras entre Massamá, Agualva, São Marcos, Barcarena, e o próprio Mouzinho o principal responsável pelo acolhimento e transferência de Gungunhana para Portugal ---
--- tornou-se possível e necessário o abrigo seguro do chefe africano, o dito “Leão de Gaza” ou o “invencível”.  
Será que Gungunhana foi mesmo vencido quando se deixou capturar? Hoje temos as nossas dúvidas. Gungunhana e seus próximos poderiam ter reagido ao serem abordados e “vencidos” e o que é que ganhariam com isso? Arriscavam uma batalha extremamente sangrenta dos dois lados e nos tempos seguintes viveriam em guerra ou entregar-se-iam ao outro imperialismo que disputava a liderança e propriedade de terras, bens e negócios.
 
Mouzinho teve um percurso de formação, mormente militar: Administrador colonial e governador – o que lhe confere um estatuto de relevância.
Podemos considerar Mouzinho um distinto africanista, se comparado com outros homólogos de governos europeus que contestaram em finais do século XIX e inícios do XXº a Administração Portuguesa ---
--- Não significa que as figuras europeias do século XIX e boa parte do século XX fossem a favor das independências; uma vez que se estabeleceram em África como colonizadores e homens de negócios. 
Diga-se, outrossim, que os colonos também contribuíram para: 
 
-o desenvolvimento de infraestruturas,
-o apaziguamento entre opositores nativos e
-a criação de países, embora não totalmente e geograficamente coincidentes com as culturas locais.
A questão do Mapa Cor-de-Rosa imposto por países europeus e o “Ultimatum” da Inglaterra a Portugal são dois episódios históricos e dois processos documentais que ilustram o desiderato da Europa imperial. Mas se não fosse esta Europa, herdeira da romanidade e dos valores humanos, beneditinos e cristãos, África teria sido disputada, assim, como veio a acontecer por outras geografias e outros estilos de vida.
 
Mormente em regiões costeiras, Portugal, já se encontrava no ultramar com mais ou menos administração, desde finais do século XV. 
Mouzinho prestou serviço público pela Nação Portuguesa, numa difícil altura. Releve-se que no continente africano havia grandes extensões habitadas por povos ou tribos que, em muitos casos, se opunham, entre si.
A indefinição de fronteiras, o fratricídio das famílias dos líderes locais são fatores que facilitam o estabelecimento de populações não nascidas em África.
Quanto ao conceito de colonialismo, esta prática administrativa estendia-se ao interior dos próprios territórios na Europa --- 
Exemplo: Na primeira metade do século XX e durante algumas décadas existiu o conceito de “colono” mesmo em relação a regiões interiores de Portugal Continental Europeu. Daí que não devemos ter vergonha do termo.
Nesta ótica foram chamadas, ainda no século XX, famílias das Beiras, colonizando o sul do País.

Estas duas imagens são gentileza in Wikipédia
 
O mapa da imagem supra, mostra o desígnio do controlo britânico «a rota do Cabo ao Cairo». Os ingleses conseguiram o controlo de uma boa parte do continente africano.
 
O Mapa Cor-de-Rosa mostra o desígnio da pretensão de Portugal com uma faixa de «Angola à contracosta». Portugal conseguiu, depois de muita negociação com os países europeus interessados, administrar Angola, Cabinda e Moçambique e não toda a área constante no «mapa cor-de-rosa» datado de 1886.
 
Nos contextos de colonização, Cecil John Rhodes (1853-1902) foi um inglês (“homem de negócios, político e explorador” (cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Cecil_Rhodes) que preconizou o imperialismo e o colonialismo. –
 
 
-- «Organizou a anexação pelos ingleses de um extenso território. Iniciador da guerra anglo-bóer (1899-1902).”
Consta ainda que Rhodes doou cerca de mil espingardas a Gungunhana para combater os Portugueses. Contudo Paiva Couceiro e Mouzinho de Albuquerque conseguiram vitórias, mesmo com homens em muito menor quantidade.
Nestas disputas, Gungunhana, o chefe que alguma historiografia classifica como imperador de Gaza - refugia-se (ou abriga-se voluntária e teatralmente) na localidade de Chaimite, deixando aos Portugueses a possibilidade de administrar o território, o que veio a acontecer. 
A questão da cobiça de extensas reservas naturais estava em causa, até para ajudar a alimentar as guerras mundiais que se seguiriam. 

 
Longe já iam os tempos da Renascença, da curiosidade em saber que mundos havia em Além-Mar, a procura de glórias pessoais e a expansão do Cristianismo.
O poeta moçambicano Mia Couto escreve e edita:
«As Areias do Imperador - Mulheres de Cinza»,
faz descrições com certo interesse, embora não desprovidas do sentimento laudatório de nacionalismo e anti colonialismo.
Nesta ótica o poeta desclassifica Albuquerque para dar relevância a Gungunhana e, sobretudo, às resistências populares locais de Moçambique.
Se Gungunhana voltasse a esta vida, talvez fizesse humor com o seu próprio destino, incluindo:
 
--a forma como foi, ou se deixou capturar,
--as lutas tribais, fratricidas e o jogo com as potências europeias,
--a inexistência de um território de fronteiras definidas,
--a inexistência, ou muito rudimentar, conceito de Estado e Nação soberana. 
Tudo isto permitiria a um Gungunhana "ressuscitado", quiçá, fazer ironia em relação com o estatuto que lhe é atualmente conferido - o de resistente e herói de um país Moçambique, agora revisitado e sem complexos.
 

Ainda o poeta em entrevista a um canal de televisão portuguesa (novembro de 2019) responde a uma pergunta da jornalista na conformidade de que o ex colonizado precisa “matar” o pai (uma semelhança com o complexo de Édipo?) para prosseguir o destino de independente. Qual figura de estilo merecerá: 
O seguinte pensamento,

Não se vingue o nativo do colonizador,

Nem se considere inferior.

Porque outrora ou no momento

Não cura este pensamento.

Como o europeu não se vinga

De colonizado ter sido

Por gregos, romanos e árabes invadido.
 

Assim agraciados

Os colonizados

Com cultura e língua franca,

Técnicas e desenvolvimento

Que ainda servem no momento.

Infraestrutura, pão

Compreensão, comunicação

O Império se faz
 

E desfaz

Para todos se conhecerem,

Compreenderem, colaborarem

Como irmãos se abraçarem.

Porque o mundo diverso

Sentido faz com o universo.

Todos seremos Um

Em paz e harmonia.

O passado compreendido

Será respeitado,

Não invejado nem repisado.
 
Foram estes pensamentos que me ocorreram ao estudar, visitar e apresentar a Quinta do Castelo, ou da Consolata sobre a Ribeira de Barcarena em terras lusas, precisamente na geografia onde a pólvora se fazia para naus fornecer e o Imperio luso fortalecer. Esperando que o Império tradicional se desfaça para dar lugar ao Império da fratrimoniologia, do respeito pelos recursos da Terra (a Matriz comum que pode ser assemelhada a uma Mãe Consolo) e respeitos mútuos, suscitados por uma Mãe protetora que gosta igualmente de todos os seus filhos.
Será também por esta analogia que os irmãos da Consolata recebem na sua pequena comunidade alguns refugiados do Sudão, não importando a religião.
Que estes exemplos de humanismo e paz demonstrem a superioridade do bem-querer e bem-fazer que por aqui passa.  Venha, também, e seja inspirado pela Musa do Consolo.

 


09.Leão no








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